Wednesday, March 11, 2015

Gente como a gente



A minha vida não é conceitual, aprendi comigo mesmo, que o melhor que tenho que fazer com ela é vivê-la e vivê-la BEM, muito bem cada segundo que é me é cabido.
Cada dia uma nova chance para me sentir bem, comigo.
Já não tenho mais ídolos de infância ou juventude, aquelas pessoas que eu admirava pelos super poderes da sedução de uma IMAGEM, tipo super heróis, distantes da realidade, da minha do dia-à-dia.

Elas lá no alto, e eu aqui na terra, frágil. Eu aprendi também nesses anos todos que nem o extraordinário, aquela festa, aquela viagem, aquele dia "D", aquela roupa mais bonita, aquela maquiagem mais caprichada, aquele restaurante mais fino, aquele dia mais ensolarado, aquela louça de porcelana, aquele cálice de cristal para ocasiões especial, é o mais importante.

O mais importante é o dia e as horas que nos é dado, as novas chances, o comum, o normal, trivial, o dia da semana, o mau-humor matinal, o despertador a tocar, aquela louça suja na pia, aquela pilha de papel pra arrumar, aquelas listas infinitas de atividades e prioridades, a casa desarrumada, a cama por fazer, roupas pra lavar, correspondência pra reler.

Aliás o que sempre deve ter prioridade é a vida, e ela não deve ser banal, como se a vida melhor a ser vivida fosse a do futuro, quando tivermos conseguido aquele emprego dos sonhos, aqueles amigos que se importam com a gente, os filhos 'sem problemas', o verão, as próximas férias e viagens, aquele amante mais bonito e sedutor que nos trará flores todos os dias e nos fará surpresas inimagináveis, aquela roupa pra completar o guarda-roupa dos sonhos, aquele sofá maravilhoso de design, a conta bancária com o saldo positivo rendendo juros, o peso ideal, o corpo ideal, a cabeça ideal, o network ideal. Tudo isso é lorota e nem precisamos de nada disso, é falso, não existe.
Não. A vida de verdade não é assim, ela é agora com todas as imperfeições, com todos os recalques, mágoas, perdas, choros, dores físicas e da alma, com o cabelo branco a ser pintado, a barba a ser feita, as unhas a serem aparadas, as compras a serem feitas, a poeira a ser tirada.
A vida é o que temos agora, a respiração e coisas ao redor, o resto é ideal, o resto não existe, é ilusão, é futuro. 

Cada vez mais aprecio vidas 'comuns' de pessoas incomuns, pessoas que descobriram cedo ou tarde, e normalmente se descobre mais tarde, no passar dos anos, que tudo está como deve ser, e não é necessário fugir disso ou daquilo, fugir da idade, fugir das batidas do relógio, não é preciso ter pressa de nada, e nem de ser provar e mostrar ao mundo o nosso valor.

Aqueles ídolos antigos ficaram lá, no petrificado passado (o ontem), lá pra trás e se revivem de vez em quando na minha memória como fantasmas sonhos maus e bons, que vêm e que vão, eles não me dizem nada, gostaria de encontrá-los sem maquiagem num banheiro qualquer depois do espetáculo.


Eles não me ajudam a me reconstruir depois de uma fase destrutiva, não elevam meus pensamentos depressivos, não me inspiram mais, não me encorajam diante das minhas tristezas e fraquezas, não batem na minha porta para perguntar se eu preciso de uma xícara de café ou chá quando estou doente, eles não são nada mais do que fantasmas,  objetos estáticos sem corpo físico, sem função alguma, eles não respiram.

Tudo o que me interessa são pessoas, exemplos de VIDAS VERDADEIRAS, revoluções pessoais, gente de VERDADE, que entende que a vida é para ser vivida, que se engana, se perde e se acha. No frigir dos ovos, humanos verdadeiros sem máscaras e super poderes, gente como você e como eu. 

Monday, March 2, 2015

Mães e filhos espertos


Apesar de meu filho de 15 anos usar muito o iPhone e estar muito online com jogos, youtube etc, fico feliz que ele teve uma infância praticamente LONGE de telefones celulares espertos, teve uma infância offline apenas com o gameboy (Nintendo DS).
 O Wii veio apenas aos 11 anos. E o playstation era do filho da ex do meu ex ou ele jogava na casa de um amigo ou nos jogos de computador, aqueles bem básicos de antigamente, de CD rom, e outros.
Minha filha também curtia o Nintendo DS (tinha um cor de rosa).

Lembro que muitos anos atrás, comprei um NOKIA prepaid para cada um deles, mas eles nunca deram bola, e lá vinha eu colocando pra carregar, e também colocando saldo, mas eles não ligavam, e também tinha telefone fixo em casa, como tem até hoje, não havia necessidade. Mas depois chegou a era dos smartphones...

A minha filha não sabe usar um celular inteligente, tem um tablet e laptop e é bem limitada  em ambos, no uso e conhecimento das diversas possibilidades de um computador e da internet.
Enfim. Sinto que por mais que me preocupe às vezes com algo como ela não acompanhar o que as meninas da idade dela fazem, ou ser uma semi-analfabeta no mundo digital,  pra ela nada de Instagram ou na net em geral, e também meu filho no seu mundo online, eu percebo que fiz a coisa certa, e até tive um pouco de sorte em estar um pouco atrás no tempo.

Eu sempre enchi a casa de livros (holandês/português e alguns em inglês), vídeos, DVDs, CDS de música de criança, brincadeiras, jogos, legos, playmobil, bicicletas, escorregador, bagunças, yogas, danças, meditações, quebra cabeças, tintas, giz de calçada, globo de espelhos com motor, enciclopédias infantis, fiz festas temas de aniversário sempre, barulho casa cheia, amigos pra brincar, (adoro brincar com criança que nem criança). Ambos tinham carteirinha da biblioteca, e muitas vezes, íamos na biblioteca, ler livros por lá, e retirar livros e ver livros, nos festivais da cidade, no Gay Pride em Amsterdã, fui 3 vezes com eles, ou seja, atividades lúdicas, sempre foram meu elemento. Nunca consegui ser o que não sou, brinquei muito na infância não propriamente com brinquedos, com plantas, com pensamentos, com criatividade, com natureza, de chinelo de dedo (meio de dedo) as tais havaianas, prego no pé, arranhões, joelhos machucados, casca de ferida...isso pra mim foi uma escola de vida, uma escola, muitas vezes não tinha ninguém pra brincar, ninguém da minha idade por perto ou do mesmo sexo. Ler era um dos meus passatempos prediletos, descobrir outros mundos, outras pessoas, outros espaços físicos, curiosidade é uma característica intrínsica de minha personalidade, só mudaria com uma doença no cérebro, ou com lobotomia.


Na adolescência dos meus filhos, tudo mudou. O mundo digital foi tomando o nosso espaço, os anos se passaram, antes morávamos numa casa com uma praça na frente, e sempre tinham várias criança brincando na frente, nem sempre os meus saiam pra brincar, mas sempre tinham amiguinhos fiéis com quem brincavam, ou da escola, ou conhecidos, e até eu mesma ia muito pra fora, quando o tempo holandês permitia. Desde 2010 que moro nessa casa tudo mudou radicalmente, a fase deles, a vizinhança, as escolas de ambos, os amigos, Dominique perdeu os poucos que tinha. o mundo mudou, a telefonia celular se consolidou, e praticamente as pessoas não vivem mais sem seus telefones espertos.
Lembro que o primeiro aniversário do meu filho nessa cada 'nova', ainda tive resquícios da fase anterior, FESTA em casa, os meninos me deixaram quase louca, inventei de fazer uma festa do pijama com filme Iron Man e os monstrinhos chegaram depois da escola até o dia seguinte. A comida era pizza daquelas dos motoqueiros (Domino pizza) e sessão de cinema com pipoca. O pizzaboy demorou  mais de 1 hora pra chegar, porque tinha chovido canivete, e os danadinhos subiram pelas paredes gritando PIZZA, PIZZA PIZZA,  me infernizaram a madrugada inteira também, não dormiram talvez porque tenha feito o jogo do copo pra chamar espíritos de gente morta, ou porque eram monstrinhos mesmo, e lembro que no dia seguinte lá achava eu que dormiriam até mais tarde, mas nada, estavam eles todos acordados para o café da manhã, e eu louca que a festa acabasse. Pensei, esses monstrinhos de 10,11 anos, NUNCA MAIS pra dormir aqui, ou somente uns 4 no máximo.

Pois bem. Dizem que mãe é tudo igual só muda de endereço, mas ser mãe é uma coisa que me comove, quando paro pra pensar econfesso que não me sinto com jeito de mãe, com cara de mãe, apesar de ser mãe.
Eu sempre quis ser uma mãe mais mãe, como essas mães por ai à moda antiga, mas nunca lá deu tempo pra pensar nisso, sempre fui eu mesma, mesmo sendo mãe, uma mãe presente e solitária, eu e eles, eles e eu.
Agora dá pra refletir, principalmente porque eles não estão comigo todos os dias, dá pra pensar, avaliar, relembrar, antes de achar uma ocupação diária que mudará o foco.
Antes era  acordar às 6:30 da manhã, levantar às 6:45 já engatar a primeira...até o fim do dia, durante anos e anos.
Hoje NADA se compara à antigamente (até dezembro de 2014), eles não dependem mais de mim pra viver. (só nos fins de semana/férias) e pra comprar roupas, sapatos, pagar algo da escola, coisas em geral, administração da 'papelada' que ainda continua e reuniões de escola, e do instituto onde Dominique mora, nas visitas e voltas pra casa, reuniões variadas da escola especial dela.

Mesmo assim, acredito que cumpri meu papel, da melhor maneira, pois a gente aprende a ser mãe, sendo, e se tem uma coisa que digo e repito, nada melhor do que ser mãe ou pai, quando se quer realmente isso. Esses dias alguém foi falar sobre medo no escuro. Eu quase ri. Não tenho medo de nada, nem de monstro, nem de ladrão, nem de escuro. Mãe teme outras coisas.

If you live to be a hundred, I want to live to be a hundred minus one day so I never have to live without you.” 
― A.A. MilneWinnie-the-Pooh


Às vezes desato a chorar, aliás tenho chorado por qualquer coisa, sem motivo, ou quando começo a falar com alguém sobre a minha filha na rua, me vem o choro, e não vejo a hora que apareça mais sol, assim vou poder usar mais óculos escuros.  Sei que é uma fase temporária, até tudo se firmar na minha situação, na dela. Sei que é o momento da cortina fechada pra fora, fechada em mim, uma luta que tenho que travar, deixando as coisas fluírem e pensamento positivo que tudo vai dar certo, confiar na minha boa estrela.
Jamais alguém vai saber o que significa, ficar com os filhos por muito tempo, e depois se ver assim, sozinha, da noite pro dia, é simplesmente triste, e todas as coisas, o conforto do lar, fica sem sentido, como numa valsa de fantasmas.
Sim tudo é pra melhor, mas continua difícil de engolir. A boca simplesmente não abre.


As pessoas dizem coisas pra me alegrar, que tudo vai dar certo, que vou ter tempo pra cuidar de mim, eu mesma digo isso o tempo inteiro pra me auto-convencer, mas ao mesmo tempo sinto que passo por uma fase de luto, ou sei lá o nome, não consigo simplesmente lidar como se nada tivesse acontecido, como se fosse um acontecimento corriqueiro, mesmo tendo todas as atividades que tenho, yoga, terapia, piano, afazeres domésticos, filhos nos fins de semana/férias, namorado, um lista de 'to do things', as contas batendo na porta, os galhos secos no quintal do longo inverno, a poeira que vai se acumulando nos móveis dos cômodos não usados.

É tudo muito recente, e penso às vezes que não fui tão boa mãe como deveria ter sido, houve noites que eu estava tão cansada que eu lia a mesma estorinha antes de dormir por semanas, por pura preguiça/cansaço de pegar um livro novo, e 'trabalhar' a nova estória, para que eles pudessem cair na cama e dormir imediatamente me dar sossego, sem perguntas, para eu poder respirar, ler, ver uma série na TV, um filme antes de dormir, arrumar a sala cheia de brinquedos espalhados, lavar a louça, namorar(de vez em quando durante a semana), pra poder encarar o dia seguinte. Que mesmo parecendo um dia igual, sempre foi um dia diferente, quem tem filho sabe, sempre acontece algo extraordinário. Sou no fundo uma mãe antiquada. Não conseguia ser como certas mães holandesas, o biscoito caiam pelo chão, alguém pisava em cima, e a criança comia o biscoito, e a mãe nem percebia, e eu achando tudo diferente.

Eu sempre fui uma mãe criança, dessas que não consegue esconder as fraquezas, dessas que falam horrores quando está brava, dessas que se arrepende e pede desculpas depois, dessas que diz que vai 'morrer', dessas que faz tudo para que os filhos não sofram, dessas que discute até com criança que quer 'bullying' com seu filho (a).
Muitas vezes até minha filha me consolou, daquele jeito dela, ao me ver chorar por uma frustração ou outra, uma briga com o namorado, cansaço rotineiro, e dizer.

- Você está triste? Não fica triste! Eu gostA muito de você, assim mesmo em português incorreto. Palavras mágicas vinda de uma voz de anjo como é a da minha filha.

 E assim ela passava a mão em mim, daquele jeito meio mecânico, pois foi assim que ela foi treinada na escola, se alguém está chorando, está triste, se está rindo está alegre, se está 'bufando' está brabo.

Eu não fazia como minha mãe, que dizia que tinha um cisco no olho. Eu choro(va) mesmo, me danava, a casa (quase) caia, mas jamais caia de verdade, porque ser bipolar e geminiana é uma situação difícil de explicar com palavras, a gente cai e já levanta, e não se fala mais no assunto. O próximo?

Agora percebo, que uma mãe sem os filhos, não é praticamente NADA, não tem serventia, mesmo que ela ainda continue a ser mãe, e sempre será mãe logicamente, a função em si acabou, a ação, o que resta são as memórias de todas as fases, e o amor que continua, o nome, é como uma rainha sem coroa, sem trono.


E assim os filhos sempre se afastam *fisicamente de suas mães. Até pensei que no caso da minha filha até seria diferente, mas no momento não é, ela está lá onde está, e está bem, e não precisa de mim.
Acredito até quando ela me liga, e diz: 'estou com saudades'. É algo que acontece porque ela tem na memória, o tempo que estivemos juntos, e sim, volta e meia sente falta, porque ela é autista, mas sente.
E claro para uma mãe, a felicidade, crescimento, desenvolvimento e independência dos filhos, é a maior felicidade que uma mãe possa vir a ter nessa vida, mas como já disse anteriormente, eu sou uma mãe criança, eu choro, eu sou e vou continuar a ser eu.


Prefiro acreditar que fiz o que deveria de ter feito, aliás eu fiz o que fiz, passei longos anos que agora nem tão longos se parecem, dia após dia junto deles, fui mãe deles com muito prazer, mesmo nos momentos difíceis quando tudo dava errado.
Eles cresceram sem smartphones, olhando nos olhos,nós 3, olhos sorridentes, olhares distantes mas eu sempre com o olho neles, eles brincando no canto deles, ou olhos cheios de lágrimas como os meus agora, ou às vezes os deles. Mas agora olhos em direção à um futuro promissor de muito amor, de mãe, incondicional enquanto viver.

A tranquilidade das manhãs de domingo

Na verdade a manhã se passou, a manhã de domingo. Acordei antes do despertador. Não acho ruim, com essas musiquinhas bacanas de celu...