Tuesday, December 27, 2011

Presente: 27 de dezembro 2011




Só o Presente é Verdadeiro e Real"Um ponto importante da sabedoria de vida consiste na proporção correcta com a qual dedicamos a nossa atenção em parte ao presente, em parte ao futuro, para que um não estrague o outro. Muitos vivem em demasia no presente: são os levianos; outros vivem em demasia no futuro: são os medrosos e os preocupados. É raro alguém manter com exactidão a justa medida. Aqueles que, por intermédio de esforços e esperanças, vivem apenas no futuro e olham sempre para a frente, indo impacientes ao encontro das coisas que hão-de vir, como se estas fossem portadoras da felicidade verdadeira, deixando entrementes de observar e desfrutar o presente, são, apesar dos seus ares petualentes, comparáveis àqueles asnos da Itália, cujos passos são apressados por um feixe de feno que, preso por um bastão, pende diante da sua cabeça. Desse modo, os asnos vêem sempre o feixe de feno bem próximo, diante de si, e esperam sempre alcançá-lo.
Tais indivíduos enganam-se a si mesmos em relação a toda a sua existência, na medida em que vivem ad interim[interinamente], até morrer. Portanto, em vez de estarmos sempre e exclusivamente ocupados com planos e cuidados para o futuro, ou de nos entregarmos à nostalgia do passado, nunca nos deveríamos esquecer de que só o presente é real e certo; o futuro, ao contrário, apresenta-se quase sempre diverso daquilo que pensávamos. 
O passado também era diferente, de modo que, no todo, ambos têm menor importância do que parecem. Pois a distãncia, que diminui os objectos para o olho, engandece-os para o pensamento. Só o presente é verdadeiro e real; ele é o tempo realmente preenchido e é nele que repousa exclusivamente a nossa existência. Dessa forma, deveríamos sempre dedicar-lhe uma acolhida jovial e fruir com consciência cada hora suportável e livre de contrariedades ou dores, ou seja, não a turvar com feições carrancudas acerca de esperanças malogradas no passado ou com ansiedades pelo futuro. Pois é inteiramente insensato repelir uma boa hora presente, ou estragá-la de propósito, por conta de desgostos do passado ou ansiedades em relação ao porvir. "

Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'
 

Wednesday, December 21, 2011

Arrependimento e perdão

Muitas pessoas falam sobre: eu me arrependo disso e daquilo. O que seria se arrepender de experiências, escolhas passadas que não se pode mudar?
Tem gente que se arrepende de ter seguido um certo estudo, outros de terem tido um relacionamento que acabou e deixou feridas ainda não cicatrizadas, outros de se mudarem de cidade, de estado, de emprego, de casa, mas as pessoas esquecem que naquele exato momento e situação, era algo que se queria.
Se arrepender, esquecer (desapegar), se perdoar, é aprender a lição até certo ponto. Pra mim é escolha não se arrepender, e porque no último mês ter lido sobre dois amigos que mencionaram o assunto em blogs, eu quero dar a minha opinião e visão sobre essa palavra e suas irmãzinhas, remorso, frustração, sensação de infelicidade, e a não valorização de experiências da vida, falta de apreciação à nossa vida (atual), insatisfação.

Agora deixa eu contar como lido com essa palavrinha, arrependimento sempre soou uma palavra estranha pra mim, se arrepender é o juízo presente de uma atitude tomada no passado, a constatação do erro (irremediável ?), a dor da consequência, a sensação que na nossa vida em algum momento no remoto passado pudesse fazer com que o nosso presente fosse mais feliz ou diferente, dando assim outro rumo (ao nosso presente = negação do atual), ou seja, talvez fôssemos uma pessoa completamente diferente (o que também não existe). Nutrir arrependimentos é achar que erramos e que o erro é ruim, é deslocar o (suposto) erro (que num determinado ponto era acerto, ação, atitude tomada = passado). Isso pra mim soa estranho porque por mais que hoje em dia se saiba que não agimos corretamente todos os dias do passado, o erro = aprendizado, era essa a nossa intenção naquele momento a agir daquela exata maneira, a tentativa de acerto, ação.  A vida é uma ininterrupção de acertos, erros, lições, prejuízos, danos, mais erros, mais acertos...acredito que até a velhice, mas é muito mais do que isso, é busca à felicidade plena e autêntica, que significa basicamente estarmos confortáveis com nossas ações, atitudes, ou seja, nos apreciarmos de todas as formas, apreciarmos ser quem somos e nossa vida.

Uma das coisas na vida que procuro estar atenta e consciente é de fazer o uso ou não de palavras, que muitos sabemos possuem uma força poderosa, tanto para o bem como para o mal. Claro que às vezes me pego falando umas bobagens, mas a minha educação foi de não usar determinadas palavras tidas por minha sábia mãe como palavras negativas.
Desde pequenos aprendemos muitas palavras, mas ignoramos o valor real do significado dessas palavras na prática, na nossa vida prática, às vezes as palavras são bem óbvias, e simples e ficam enraizadas na nossa mente, porque afinal já (achamos) que sabemos o que ela define. Muitas vezes papagaiamos definições sem nos darmos conta, do verdadeiro significado, eis minha reflexão.

Muitas vezes na minha vida segui minha intuição, outras vezes nem tanto, errei muito e acredito que continuo errando, a vida é uma escola contínua, não precisamos obter notas, mas devemos sempre ter em mente que arrependimentos não ajudam em nada à evitar cometer erros futuros, é torturar o presente, é bloquear a essência e dinâmica da vida, ao invés de evitar cometer esses erros (que certamente virão), devemos aprender a lição do perdão, da auto-apreciação (mesmo com esse erro tal erro do passado).

A mente precisa estar alerta, é preciso entender a lição,  usar de sinceridade, com quem? Consigo mesmo ora bolas.

Precisamos parar de achar que o passado poderia ter sido diferente "se"..., não é, isso gera insatisfação, e uma vida miserável, à quem queremos agradar afinal?

Voltar atrás ninguém pode, se arrepender na minha opinião é desperdício de energia, se eu pudesse voltar atrás...faria isso/aquilo diferente, muito bom, mas isso também não existe, só em conversa entre amigos. A vida precisa ser vivida no presente, tudo que aconteceu conosco no passado, faz parte do passado e melhora nosso presente, e até se nos arrependermos de algo, paciência já virou passado, não poderá ser mudado, e creio que sempre acontece algo em nossa vida  do qual não gostamos, que gostaríamos que fosse diferente, não existe nenhum ser no mundo que tenha tido uma vida perfeita, sem erros, sem dor, e até sem 'arrependimentos', mas como lidamos com isso é que faz a diferença.

Se num momento X da vida, tomamos uma decisão (atitude) Y...e hoje nos arrependemos (erro), devemos saber que esse "erro" foi de certo modo um acerto, pois só através do erro, de experiências das mais variadas, da conscientização, conseguimos nos perdoar, seguir em frente e acertar cada vez mais (crescer e amadurecer), através de uma filosofia de vida baseada na sabedoria, nas profundezas da alma e do auto-conhecimento, pois aprender a se perdoar também é uma lição e das mais valiosas. Já associei, a palavra arrependimento com experiências não vividas, não escolhas supostamente erradas, mas mesmo assim não vejo isso como verdadeiro, isso é algo que li, que me disseram, e que estou nessa fase em minha vida tentando desaprender, pois como se pode se arrepender de coisas que não se faz? Se não fizemos "nada", que supostamente é alguma coisa, que "deveríamos" ter feito no passado, não seríamos quem somos hoje. Lógico, se a criatura está insatisfeita com a sua própria vida, é outro assunto.

A vida é um grande tricô, uma rede, está toda entrelaçada com nossas escolhas, nossos relacionamentos familiares (nosso histórico), nossas tentativas de acerto, nossos relacionamentos no ambiente em que vivemos (amigos, conhecidos, comunidade, cultura, etc) nossos medos, nossos sonhos, nossas ações no passado, lições aprendidas, e principalmente com nosso pensamento e interpretação perante as coisas, a própria vida, as mudanças internas, o passar das horas a compreensão e aceitação das coisas serem como são.

É uma questão de escolha (pessoal) não usar a palavra arrependimento deliberadamente, a não ser quando se faz um mal à alguém, volto o pensamento atrás e digo: causei o mal à Fulano, e não quero fazer novamente, me vinguei do Sicrano, hoje eu não faria igual, pisei no calo, me alterei, usei "drogas", bebi demais, hoje modero. Aí entra a lei de causa e efeito, causamos e o efeito vem, é uma lei universal como várias outras, carma. E todo carma começa com um pensamento transformado em ação, a não ser que a pessoa acredita em vidas passadas, em carmas imutáveis e outros limites da mente e prefere colocar a "responsabilidade" na vida passada, na família em que nasceu, no pai, na mãe, na sociedade, no governo, na economia, no mercado, nas ações da bolsa, no laudo médico, nas circunstâncias em geral... e por ai afora.

Quer a pessoa na vida, possuir arrependimentos o melhor remédio é erradicar no fundo do coração essa palavra do vocabulário o mais breve possível, que como já citei, é uma palavra torturante...e proferí-la por si, significa que ainda não desapegamos dela, continuamos no nosso presente com a mesma à tiracolo, ela está lá invisível, mas pesa, e carregar algo pesado é desgastante e cansativo.


Desapegue, desapegue da culpa, portanto, desapegue do arrependimento. Viva uma vida daqui pra frente, escolha viver desse modo, é uma escolha, ou pelo menos eu fiz essa escolha, aprenda com o passado, agradeça ao passado, a máquina do tempo não foi inventada, é muito romântico a idéia do Super Homem voltar no tempo e salvar a namorada, dar aquela voltinha mudando a rotação da terra. Ele pode, é ficção.
E quanto a nós, devemos seguir em frente na nossa realidade, olhar de vez em quando pro céu estrelado, esquecer da terra, apreciar esse céu, apreciar as incontáveis estrelas.
Feliz 2012 à todos nós!







Thursday, December 8, 2011

Y o g a



Voltei a praticar yoga diariamente, aliás retomei às asanas (mais conhecidas no Ocidente como posturas/posições), pois mesmo não as praticando por longos meses, sempre soube que a prática e conhecimento sobre os assunto me daria a chave ao meu bem estar diário, físico, mental, espiritual,  algo que veio pra ficar na minha vida (em forma de cura), enquanto eu estiver pisando nesse mundo, e respirando esse ar. A continuidade que a disciplina requer, não é tarefa fácil, é preciso lutar bastante pra manter o foco, pois no meu caso, yoga é também um ritual, o meu ritual pra me manter perto de minha consciência. Pranayama eu nunca deixei de praticar, mas sem minha sequência de asanas, que considero um ritual redondinho, minha prática andava neglicenciada e incompleta, já estava mais do que na hora, de criar um momento pra mim, e felizmente consegui.

Obviamente já sinto os benefícios da prática que retomei, e um deles é...me desligar de tudo que me atrapalha, que impede meu desenvolvimento pessoal, emocional, aquelas 'desculpas' que se arranja pra continuar colocando a culpa de nossos fracassos e frustrações nos outros, de não ir atrás de nossos objetivos, sonhos,  as presepadas que a mente encontra pra colocar no destino (acomodação), nas circunstâncias (meio), a responsabilidade de nossa felicidade autêntica, do nosso bem estar, do que nos faz feliz,a preocupação demasiada, problemas aumentados e por ai vai. Esses benefícios, percepção de que nossa vida deve ser desenhada por nós mesmos e independe de pedras, tijolos, concreto, jogados diariamente em nossas cabeças que nos trava, vêm do treino, estudo, aprendizado, e como já frisei bem, lições não aprendidas são repetidas ao longo da vida, problemas vêm e vão, e a chave é solucioná-los e ter mais qualidade de vida, sorrir mais, ser mais leve, não levar a vida a sério demais, mas mesmo assim ir a fundo.

Parece simples demais, ou talvez eu coloque a coisa simples demais, mas ter disciplina já que o ritual é diário, não é lá tarefa simples, arrumar tempo, ter espaço, a idéia de parar (a correria do dia-a-dia) e mexer o corpo, tem na preguiça pra qualquer atividade física mascarada nas formas mais sutis, a preguiça é a vilã, vencer a preguiça é um grande feito, a recompensa é um corpo mais flexível, o óleo na engrenagem e todos os benefícios que citei acima, e uma força fantástica.

Uma mente alerta e saudável, um coração aberto, um corpo flexível, qualquer pessoa quer ter, porque é possível e é a chave pra vitalidade e uma pessoa feliz que prefere se acercar pelo belo, pelas artes, pela verdade, percebe mais as ilusões e armadilhas que aparecem no caminho, e separa mais as coisas (nesse caso a sujeira não pode ser colocada pra debaixo do tapete), não existe tapete, temos que varrer as imundícies, temos que cuidar de nossa casa, de nosso corpo, todos os dias, cada dia é um novo dia, um papel em branco a ser desenhado) e ninguém pode fazer isso pela gente, ninguém pode respirar pela gente. Sabendo o que já não funciona mais em nossas vidas, o que é cópia, não corremos mais riscos de repetição de experiências ruins do passado, nossa mente se fixa mais no presente, e não precisamos temer o futuro (que ainda não existe).

No meu caso pessoal, eu sou e sempre fui uma pessoa de natureza questionadora, uma estudante, apesar de ter me permitido errar e me perdoar por isso, eu sempre tento aprender a lição pois quero aprender coisas novas (não ficar martelando na mesma pedra), viver intensamente, me alegrar com as coisas que faço, me orgulhar de minha pessoa, de minhas façanhas, me apreciar e me conhecer mais a fundo, não somente apreciar a forma, pelas palavras, mas pelo conteúdo e pela energia e maneira leve de viver a vida. Yoga ajuda a derreter a energia negativa que muita vezes fazem um ninho no nosso ser e se instala como um parasita voraz e vai virando uma cidade habitada por monstros.

As asanas (posturas) na yoga, preparam o nosso corpo, nos purificando para atingir esse (tal) nível (espiritual, o nível meditativo, o nível abstrato e metafísico, o nível da alma) mais alto/elevado, que até seria melhor dizer: mais profundo, nos proporcionando uma energia vital, ativando essa energia vital, somos menos propensos a cair em armadilhas das distrações, ou seja a disciplina que parece ser uma palavrinha horrorosa e obrigatória, trabalha a nosso favor, como uma dependência positiva: praticar pra se sentir bem, não praticar (se por acaso acontecer algo), mas continuar no dia seguinte, sem se culpar, seguir em frente e não perder o ritmo, os ladrões nunca adormecem.

Temos um corpo e não podemos negar, temos que conviver com esse corpo até o fim dos tempos, em toda nossa vida, é ele que temos, nenhum outro, cuidar bem do corpo é essencial, mens sana in corpore sano, termo batido e conhecido por todos, mas não somos só músculos, pele, somos também órgaos, glândulas, células, água, sangue, lado direito e esquerdo do cérebro, energia, e muito mais, há um universo dentro de nós. Evitar doenças, somatização, ouvir sutilmente os sinais que o nosso corpo nos manda (dores aqui ou ali)...na verdade, todos os dias envelhecemos gradativamente, é um fato e muitas vezes não percebemos esses sinais, mas há uma diferença bem grande em negligenciar os cuidados pra retardar o envelhecimento que sacrifica e aprisiona o corpo rígido, sobrecarrega e enverga a coluna vertebral, nos sugando dessa energia (renovada) vital.

Eis os componentes de meu ritual diário, mas não aconselho à ninguém praticar yoga em casa como faço, mas friso que é possível, aprender em um curso com um professor/instrutor experiente, e depois de alguns anos, ou até meses, começar por si, com ajuda de experiência (na escola/curso), e de livros, ou sites na internet como fiz, gradativamente, uma coisa puxa a outra.

- Normalmente faço yoga com o estômago vazio, jamais vazio demais, ou com sede.
- Gosto de fazer yoga pela manhã, porque me energiza o dia inteiro.
- Tenho vários tapetinhos de borracha = mat (uso 2, pra evitar o contato com o chão gelado).
- Uso uma legging (cotton/lycra) e um top (cotton/lycra), nada apertado...que se ajusta no corpo, assim posso ver bem a saliência da minha barriga, do estômago quando faço asanas de respiração, de pés descalços é melhor, mas os tapetinhos de borracha não podem escorregar no chão, pra evitar acidentes.
- Temperatura agradável (aquecimento central ligado no outono/inverno).
- Incenso...de aroma agradável (cada pessoa possui gostos diferentes, tem gente que não suporta incenso, eu procuro comprar os mais naturais possíveis, não aqueles cheio de tintas).
- Música, tenho vários CD's de música pra Yoga, Tai Chi, Zen...e 2 deles são meus favoritos, música nunca muito alta, de fundo, flui melhor.
- Não preciso de espelhos, que tira a concentração do núcleo, e cuida apenas da forma (não é o caso), pois yoga não visa perfeição (não é acrobacia nem ballet), há pessoas que são mais maleáveis qua as outras, todos os corpos são diferentes, e nunca se comparar à pessoas com mais de 20 anos de prática, é um passo pra frustração, cada pessoa começa a praticar yoga com um propósito tais como: relaxamento, auto-cura, dores no corpo,  como anti-depressivo, ponte para meditação, cura para algum mal qualquer, encontrar seu próprio eixo, ter mais contato com sua essência, ter mais qualidade de vida, etcetera.

O início da sessão: faço um aquecimento (praticamente o mesmo que aprendi no curso de Hatha Yoga), e sigo minha intuição, se tenho alguma dor nas costas ou joelhos não forço em fazer asanas que exigem um pouco mais dos joelhos e costas...o aquecimento é muito importante pra iniciar a sessão de yoga.

Depois do aquecimento faço asanas em pé (procuro variar todo dia, e não sigo sequência rígida), sigo também a intuição, a criatividade vem da experiência, faço asanas de equilíbrio, depois sento...faço torsões, e várias asanas deitadas, sentadas, inversões, medito alguns minutos (nunca conto e nem sei quanto), e continuo fazendo as asanas depois da meditação, até o final. Confesso que tenho pulado uma parte bem importante antes do final que é os 10 minutos de relaxamento (deitada na posição corpse, luz apagada, e olhos fechados e com um cobertor leve, pois a temperatura do corpo (trabalhado) declina, e o fechamento (como se fosse a despedida da sessão/ritual).

Esse é o meu ritual, acabando com a saudação Namaste.

Próxima vez que escrever sobre yoga, postarei os livros (fontes) que adquiri e fazem parte da minha pequena biblioteca de yoga, os quais considero muito importantes até hoje me inspirando a seguir sozinha essa jornada aprofundando mais meus conhecimentos nessa prática.


















Saturday, October 22, 2011

Amores antigos batendo na porta



Ontem um amor antigo bateu na minha porta. Uma pessoa que não via desde o rompimento em fevereiro de 2009, ou seja, um tempo bem longo atrás.
O relacionamento que tinha durado cinco anos, chegara ao fim com uma grande briga (lugar comum), e com a grande probabilidade de nunca mais cruzarmos o mesmo caminho, a distância seria o melhor remédio, o tempo, o afastamento e rompimento total, pra não ocorrer nenhuma minúscula possibilidade de recaída, a ferida precisava cicatrizar.

Inúmeras vezes tentei imaginar, como teria sido um provável encontro nas ruas de Haia (cidade em que ele reside) e visito com frequências, e até procuro evitar, ou quando vou olho ao redor, imaginando que ele estaria em algum lugar. Uma vez uma amiga estava indo ao cabeleireiro em Haia e o encontrou, depois do ocorrido, me ligou correndo e disse: adivinha quem eu vi? No fundo fiquei morrendo de inveja dela naquela ocasião. Até a infeliz e trágica idéia de que um dia ele estaria no leito de morte, um acidente quase fatal, uma doença terminal, e diria ao parente mais próximo, preciso revê-la, preciso falar com a Bebete. A situação seria inofensiva, não voltaríamos, ele abraçaria a morte, e eu seguiria sossegada pela vida afora, longe do traste, finalmente LIVRE.  Pensava cada idéia esdrúxula (inconfessáveis dirão muitos), pensava que ele um dia ia querer falar comigo novamente, me ver, sonhava que um dia ele iria deixar o orgulho de lado e querer pelo menos a minha amizade (apesar de saber que amizade nunca funcionaria no nosso caso, teve paixão demais, amor demais, brigas demais, ódio e esses sentimentos combinados, não foi um relacionamento qualquer, foi amor, e amor é dor, destruição, guerra, e todos os sentimentos que as pessoas sonham em ter um dia, e eu tive. Um amigo pra conversar, ir ao cinema, tomar um café? Jamais, amava muito esse homem, me descabelava, acabávamos o relacionamento, e sempre um ou outro arrumava uma desculpa da mais esfarrapada possível pra voltar. Certa vez, ficamos 5 longos meses separados, brigados, e mesmo assim, voltamos.  Sonhava que a vida feliz a seu lado seria ele mudo numa cadeira de rodas, e eu lá empurrando, ele totalmente dependente de mim, num inferno de relacionamento claro, mas juntos, melhor de corpo presente, do que nada, melhor ódio mortal, do que não poder estar juntos e respirar o mesmo ar, pra vocês verem o quão passional eu sou.
Onde as pessoas chegam por amor...o quão baixo as pessoas se nivelam, como certos corações rastejam, são bregas, marginalizados, sem ética, sem códigos de condutas, sem fórmulas, e as pessoas digo eu, o coração digo o meu, a lógica e o raciocínio inexiste, cegueira.  Nosso relacionamento era osmótico, destrutível, a única salvação era o afastamento, e foi o que finalmente aconteceu. Tentávamos usando todas nossas forças a agradar um ao outro cada vez que voltávamos, já sabendo do nosso fracasso, do pisar em ovos, eu sempre me sentia diminuída, menosprezada, incompreendida, e ele se sentia incompreendido, traído, e outros sentimentos que nem mesmo procurava entender, eu o deixava louco por existir costumava transparecer, eu era expansiva demais, tinha vida demais, mudava demais, ele tinha muito rancor no coração, não tinha senso de humor, tinha um ranço político exacerbado, era culpa acima de culpa, ele o dono da verdade,  queríamos estar juntos, felizes, mas não conseguíamos agarrar essa felicidade, não vivíamos em paz, pelo menos por muito tempo. Fui eu que dei a palavra final, a derradeira. Ele ficou lá naquele dia em fevereiro, falando sozinho. Eu dei um basta, o salvando, me salvando, afinal amar demais, enlouquece, e como diz a música do Sting ...if you love somebody set them free

Foi assim que aconteceu, nunca mais procuramos um ao outro, entretanto, foi ontem que o vi novamente, numa grande loja de departamentos em Amsterdã, no mesmo andar, ele na parte da livraria (Livros de História) e eu saíndo da ótica, no quarto andar, tinha ido à Amsterdã pra comprar de vez meus óculos, e deixaria as lentes pra mandar colocar em Leiden.

O encontro foi meio bobo inicialmente, bem besta e patético, parecia irreal, se for falar a verdade, você olha praquela pessoa que significou muito pra você, olha a roupa de relance, a aparência, a reconhece, as cores, o rosto, você é atraido como um imã para o olhar da pessoa, simultaneamente, leva um susto, se abala por milésimos de segundos, é tudo tão natural, tão inesperado,  não pode aparentar que está abalada, nem sabe se está abalada, estava abalada, ou estupefata? É preciso muita coragem pra ser natural, respirar fundo, seguir em frente cada segundo, não dizer besteira, pra abrir a boca, articular rapidamente na cabeça o que dizer, pensar rápido, falar pouco, observar, parece que qualquer palavra proferida, será clichê. Você mudou, a pessoa também. Todo mundo muda em 2, 3 anos...mesmo que seja algo superficial, engordou emagreceu, aparenta mais velho, ou não, mas tudo é familiar (sinal de que o amor não morreu?). O estilo dele era exatamente o mesmo, uma certa elegância, neutralidade... trenchcoat verde musgo (novo), o antigo eu conhecia, era também verde, ele usa muito verde, bege, marrom, essas cores neutras, cores de homem que são ou querem parecer sérios, cores que combina com ele, não ousa muito, não sai da zona de conforto, se conhece bem.

É preciso também deixar fluir, cada segundo é contado...ninguém tem pressa apesar do tempo não parar, o tempo em si parece que pára, o que você tem a fazer, fica insignificante. Você se pergunta, estou parecendo calma, estou bem? Será que dá pra passar que estou bem, estou feliz, mais velha, mas mais bonita, confiante, eu passo bem sem ele, ele passa bem sem mim. Deixa assim, tá tudo muito bem demais, até divertido, ótimo até, quanto tempo esperei por esse momento, sem esperar nada e agora que chegou o que seria, coincidência? Acaso do destino? O que significa isso mesmo? Um encontro casual? Uma nova aproximação. A cabeça faz muitas perguntas, mas na verdade se esquece, e só o que importa, é o momento presente, o encontro em si.

Vamos tomar um café? Ele convidou imediatamente. Afinal ficar parado conversando em pé, numa loja não fazia nosso estilo, senti que ele gostou de me ver, de estar comigo novamente, e queria mais, e claro, eu também, cheguei até a pensar que ele viraria a cara pra mim, emburrado...fazendo de conta que nunca me viu mais gorda, mas isso só acontece, quando um dos dois não amou o suficiente, e pra mim não era nosso caso, o amor sufocou nosso relacionamento.

- Naturalmente. Respondi. (No quinto andar da loja de departamentos, tem um restaurante). Lá fomos nós, subindo um andar acima apenas na escada rolante do amplo andar.

Capuccino por favor, eu disse,  ele pediu dois...pagou, pegou a bandeja decidido, fomos procurar uma mesa, uma menina pegou a mesa  vaga antes, tinha outra vaga, lugar agradável, neutro...pessoas bem vestidas, ambiente neutro, sem muito barulho, extremamente limpo, apesar de meu olhar se negar a ver outras coisas.

Puxei a cadeira pra ele (que estava com a tal bandeja), tirei o casaco de lã, o cachecol, coloco a bolsa na cadeira de design forrada ao lado...começo a entrar numas com o meu pescoço (estou com 51, o rosto envelhece mais tarde, mas o pescoço?) deixo esse pensamento pra lá, estou confortável comigo mesma, confiante, elegante de preto (me sinto), sem óculos (de lentes), sem maquiagem...apenas com um bom batom vermelho, uma pele bem hidratada, um pouco de pó de arroz, meus cabelos estão curtos, bem curtos mas no corte, estariam curtos demais? Bobagem de mulher penso eu, estou ótima, eu que escolhi...estar assim, com cabelos curtos, brancos, a idade não escolhi, mas estou numa fase ótima, a dos 50, a fase do PHODA-SE! Falo pra ele, ter 50 é ótimo, uma libertação. Ele ainda está com 46.  Mesmo que houvesse alguns resquícios de insegurança, as unhas não estavam imaculadamentes pintadas por exemplo (coisas de mulher se estressar por bobagens), mas o anel é bonito, o relógio é minimalista, o casaco é de boa qualidade (tiro sempre as pelugens brancas antes de sair de casa), o sapato é bonito da Galeries Lafayete uma marca comum, de couro Oxford, estou perfumada, estou bem cuidada, o resto que se dane, o que ele nesses poucos minutos, pensará de mim, não quero esnobar, dizer que tenho namorado (firme), que meu namorado é muito querido, mas acabo dizendo... ele sabe mesmo assim...diz que segue esse blog de vez em quando, deve continuar traduzindo no Google de vez ou nunca.

Ele me conta as novidades, trabalho novo, profissão nova, segue as mesmas causas irritantementes políticas, uma delas era a minha maior rival no passado, tamanha a obsessão, a paixão, o que no fundo até o admirava.

Ao lado do grande prédio da loja de departamentos mais cara da Holanda a Bijenkorf onde estávamos, a ironia das pessoas do Occupy Amsterdam, dois mundos bem opostos.

Você tirou fotos? Viu o Occupy?

- Eu não fotografo mais, vendi minha Leica (é verdade, eu lembro), mas passei por ali, sim, muito importante esse momento no mundo, blablabla.

Eu também acho, tirei algumas fotos, bacana esse troço mesmo: Occupy

Pois é.

E eis que chega minha amiga (tínhamos marcado um encontro), ela sentou, estava com um casaco parecido com o meu, preto de lã, só que no meu os botões eram maiores. Eu conto a novidade: que me mudei de casa, que a casa é bem bacana, minha amiga confirma que é bem bonita, espaçosa, toda branca, Falo nas crianças, ele pede pra mandar lembranças, falamos um pouco sobre as crianças, que já estão grandes, falo só que está tudo bem, não entro muito em detalhes.

Começamos a falar inglês, português, eu holandês devagar pois ela não domina, em Amsterdã é normal, é assim, nem todos os estrangeiros falam holandês. Ele diz que tem vindo à Leiden (minha cidade) encontrar amigos de escola de muitos anos atrás, nunca nos vimos. Acabei dando meu endereço novo, me mandou um request de amizade no Facebook, coincidentemente ele já é amigo dessa minha amiga, eu já estava a par. Minha amiga fala em códigos (língua portuguesa), não dá o endereço boba. Mas eu fiquei com vontade de dar, ninguém dá mais endereço, as pessoas te adicionam no Facebook, te acham fácil no Google hoje em dia, eu bem sei, mas sou diferente, gosto de escrever em guardanapos, gosto de pegar canetas. Soy vintage. Ele não vai bater na minha porta, holandês não bate na porta...e se ele bater na minha porta...bom,

O diálogo passou a ser de três. Tirando o foco do nosso encontro a dois.

Por ele, e por mim... talvez ficássemos conversando até, até...até sei lá quando, até anoitecer, até as palavras acabarem. Não sei, não sei o que seria, ele com certeza ia me convidar pra jantar em algum restaurante bacana, é doido por comida. Teria eu coragem de me aproximar mais ainda? Estávamos mais próximos do que nunca de uma certa forma, novamente, por pouco tempo. Sentia um certo encantamento mútuo no ar, mesmo ele dizendo a minha amiga, que não estava mais apaixonado por mim (mas afinal ele tocou nesse assunto). Antes de minha amiga chegar, ele também tocara no assunto da derradeira briga naquele dia na piscina...eu o interrompi, afinal não queria estragar o momento, falando de briga...mas entendi, que o deixei falando sozinho, e tinha dado um ponto final, sorte que foi exatamente nesse momento que minha amiga chegara, mas parece que ele queria desabafar sobre o ocorrido anos atrás, talvez fosse bom, ruim, não sei.

A conversa a três continuou, mais alguns minutos, teriam sido, 10, 15, 20? No que ela disse:

- Vamos amiga, as lojas vão fechar. (querendo me tirar daquela situação, afinal esse era o meu objetivo), comprar o óculos, da tal armação Prada (coleção passada), a nova achei sem graça. Não consegui achar mais...odeio essa coisa de coleção, eu quero o óculos que eu goste, que eu veja a armação e diga: é esse, e depois colocar as lentes, e enxergar tudo.

Ele disse, esse óculos (o atual), você tem já há bastante tempo, não?. Sim, 3 anos...gosto muito, só que agora chega, preciso de um mais forte, esse até lascou...é multifocal, e mais blablablá, frivolidades, ele deu algumas risadas.

Tive tempo de perguntar se ele tinha namorada (não me segurei) no que ele respondeu que não, não estava interessado, depois de mim. Coisas de holandês pensei, não apareceu, ele não vai atrás, não teve sorte, sei lá, deu um certo gostinho, talvez ainda goste de mim, pois pelo menos dizia que me amava, e eu sentia esse amor, apesar de todas as brigas, todo o drama, todos os inúmeros rompimentos, a raiva, aquela guerra de 5 anos.

Vamos amiga?

- Sim vamos. Colocamos nossos casacos, descemos as escadas rolantes, falamos sobre yoga, ele estava mais magro, dava pra perceber, mas mesmo assim, eu conheci aquele corpo, mais gordo (ele nunca foi, tinha corpo escultural (que raiva), mais trabalhado às vezes, mais magro noutras, de todos os jeitos, de ponta cabeça, pra mim tanto faz...eu gostava até dos ossos daquele cara, daqueles dentes de Coelhinho (o apelido que dera à ele).

Nos despedimos na frente do prédio. Ele pegou um cigarro (ainda fuma), nos despedimos com um abraço, 3 beijinhos, ele abraçou minha amiga, deu 3 beijinhos (típico na Holanda), disse que tinha uma reunião (?) whatever.

Take care!
Ele foi pra um lado, nós pro lado oposto.

E ai, o que você achou dele, perguntei pra minha amiga? O que você acha que ele achou de mim...cheia de perguntas.

- Ele está magro...você está ótima, nunca te vi tão bem.

Você fala sério?

- Sim claro, adorei esse seu cabelo novo, tá com uma cara ótima, elegante (preto sempre me cai bem, pensei)...emagreceu. (preto me emagrece, sim), e talvez até tenha emagrecido, escondi a balança.
Seguimos em frente, rumo às outras lojas, às outras óticas, duas amigas queridas.

Preciso achar meu óculos, digo pra ela, claro...vamos lá. E seguimos em frente, pegamos a bicicleta dela, e fomos caminhando sob o sol nas ruas do centro de Amsterdã. O dia de outono estava simplesmente fantástico, era uma sexta-feira qualquer, um dia inesquecível qualquer...mas eu me senti mais viva como nunca e depois...de tudo,  ele me mandou uma SMS que eu não conto nem por decreto.



Thursday, October 20, 2011

Meia-noite, um barulho no portão...



Apesar de nem ser novidade comentar sobre o último filme de Woody Allen Midnight in Paris, eu faço questão de registrar e dar a dica por aqui aos saudosistas e sonhadores como eu, pois ele saiu da cinzenta Londres e foi à (chuvosa) Parri à procura de fantasia e encantamento, encontrada depois das 12 badaladas do relógio (sino) da meia-noite, só pra provar que o presente, é o maior presente e não é tão ruim e aborrecido assim, com um empurrãozinho do passado tudo pode se encaixar sem muitas frustrações. E trouxe a magia de volta pra nós ou pelo menos pra mim, que me descubro amante de tudo que é retrô, vintage, antigo. Sou sua fã, desde os meus verdes anos com filme O Dorminhoco, quando fiquei sabendo sobre a viagem do espermatozóide e outras cositas más.

A grande mágica do filme acontece do outro lado da meia-noite, as luzes cintilantes de Paris dos anos 20 onde o personagem Gil via como seus "Anos Dourados" (época do passado preferida da pessoa).

Onde moro não é Paris, mas tem muita coisa antiga e também velha, afinal aqui é Velho Continente, o soar de sinos de Igreja é igual, silêncio ao redor, igualzinho, depois da meia-noite na verdade acontece muito pouco por aqui, é um silêncio que se demora pra acostumar, principalmente porque o Brasil é um país tão barulhento. A prefeitura na minha cidade parece uma grande igreja olhando inicialmente, tem uma torre alta, com relógio, sino e tudo, e no vídeo acima toca essa melodia inigualável, que realmente faz uma diferença, não é só blém blém blém, é uma barulheira com hora marcada, que diga-se de passagem eu aprecio e muito.

Há um ano atrás mudei de casa e claro que gosto de onde moro agora, mas com todos os contras de minha maison anterior (pequena, velha -construída em 1910) a localização era abençoada; de frente pra uma praça silenciosa, na ruazinha ao lado, passava vagamente e vagarosamente um veículo a motor, eu até reconhecia os motores de alguns carros, como por exemplo o da van que pegava e trazia minha filha todos os dias num determinado horário da escola, o caminhão de lixo às terças e sextas, o carro do meu ex marido quando vinha buscar as crianças, um táxi que havia chamado, etc. E participando da santa paz do lugar, era perto de uma igreja católica a Igreja São José (coisa rara nessas bandas) de meia em meia hora tocava uma badalada apenas, e nas horas cheias tantas vezes conforme o horário, somente antes da missa de domingo 11 da manhã, o sino era perturbador...tocava ad infinitum sem prestar contas com o tormento e o sono alheio (o meu por exemplo), e às vezes me acordava, já que no andar
de cima de minha antiga casa, não havia vidros duplos (não temos venezianas na Holanda), salvo...casas muito antigas, e quando falo antiga, digo, século XVI. Uma vez caiu um raio, sim, um raio na torre/cúpula da Igreja, acho que fui eu praguejando o som torturante do sino de domingo, o único que reclamava. Na casa nova tenho vidros duplos nos 3 andares (térreo/primeiro/segundo), que além de proteger do frio (o que até protege pouco), veda o barulho lá fora, e também o barulho dos sinos e sinto claro uma imensa falta, daquela sensação do tempo parar pra se prestar atenção a algo, e saber as horas, sem precisar olhar o relógio.
Sint- Josephkerk atingida por um raio
Essa poderia ter sido eu

Voltando ao filme, sai dali querendo ir pros anos 20 também, e ter um corte exatamente o meu favorito, da icônica Louise Brooks, que já tive várias vezes, mas me deu vontade de ter novamente, vou deixar meu cabelo crescer num futuro próximo. Aliás tudo na moda dos anos 20 e também 30, eu a-do-ro, sou uma irremediável retrô, pois nessa semana mesmo comprei um boneco de madeira feito na antiga União Soviética, um soldado de capacete vermelho. Tentei achar mais informações sobre o boneco, mas não achei nada, deixa assim, afinal não preciso saber tudo, não é mesmo? Só sei que é velho, e não pude deixar passar. Dizem que a gente compra emoções, e foi isso, e ainda comprei um poster do filme Beth Blue, difícil foi trazer na bicicleta o poster já com moldura num dia de muita ventania, e quando olho pra imagem da Beatrice Dale, linda, jovem, também volto aos anos '80', que também curti muito.

 Pensando bem, queria ter na verdade uma máquina do tempo, no quartinho das bicicletas, e poderia ir pra onde quisesse no calendário. Aliás desde criança quero ter uma máquina do tempo, só que quando criança eu não queria ir pro passado, achava-o muito violento e sem graça, pois no seriado americano Túnel do Tempo, eles voltavam mais pro passado do que pro futuro, e no passado sempre tinha uma guerra chata.  Usando essa máquina daria uma passadinha como adolescente nos anos 60 em Londres, bem na Carnaby street, usando saia Mary Quant, num visual totalmente MOD, participaria da gritaria histérica de um show dos Beatles, andaria por uma Londres que não existe mais.

 Outros 'anos dourados' que não deixaria passar, seria estar em Nova Iorque, nos anos 70, bem na época de Studio 54 nem que fosse por meia hora na pista de dança, seria pedir muito? Aliás numa madrugada inteira, já que dá pra sonhar alto.




Prolongue a magia,  Disneyland Paris o slogan de natal. E foi o que fiz, sai do cinema flutuando, admirando (como sempre) os postes antigos de luz da cidade parecidíssimos com os de Paris, rumo a um bar com J., chegamos no bar clima outonal, tira-se sempre os casacos, bebemos cerveja e não champagne, e a maioria dos jovens do bar, eram oriundos dos 4 cantos do mundo, estudantes da Universidade de Leiden, vestidos com suas roupas surradas de estudantes, sem glamour algum...várias pessoas encarando a cerveja choca com seus celulares, quebrando o encanto de qualquer coisa (eu sei), pufff a bolinha de sabão estourou, queria correndo voltar e pra casa. Woody Allen, usou um misto de Cinderela, magia, meia noite, sino, carruagens, oldtimers, pra dizer pela voz de um chato, o "Paul pedant" que Nostalgia é a negação da dor (sofrimento) do presente, e pra fazer de um escritor muito empolgado, mas de talento literário duvidoso, aliás medíocre, um homem comum, mais um americano em Paris, exatamente como criança com algodão doce nas mãos em parques de diversões, à procura de romance, exotismo, amor, sal e pimenta do reino à gosto na sua vida incolor, inodora e insípita.


Teria tantos lugares pra visitar com a minha máquina do tempo, históricos e especiais pra mim, lugares que guardo na memória, pessoas pra conhecer ou rever, mas por enquanto, fico viajando na maionese das aventuras de uma máquina do tempo telepática, o que faço muito bem, graças a minha excelente memória e imaginação, pois o que não quero de jeito nenhum é parar no tempo, e no futuro não tenho necessidade de ir, já que me sinto fazendo parte dele.



Tuesday, October 11, 2011

E assim se passaram 15 anos



Completei 15 anos de Holanda no dia 31 de agosto 2011, gosto dessas datas fechadas e arredondadas, 5, 10, 15, 20...25...50, pela ocasião, não quero deixar passar em branco.

Pois bem, muita coisa mudou desde então, do dia que desembarquei com mala e cuia no Aeroporto de Schiphol, pronta pra uma nova vida. Mas o que sem dúvida me marcou mais, é que foi aqui na Holanda que me tornei mãe.

Nem meu casamento, nem meu divórcio, nem meu diagnóstico de bipolaridade, nem o diagnóstico de autismo de minha filha, nem a radical mudança de vida, de Rainha da Cocada Preta à estrangeira com vida aparentemente pacata em Terras Baixas, depois de uma exaustiva jornada de independência, carreira, e individualismo.

Ser mãe, ter me tornado mãe, essa sim foi a grande mudança de minha vida. O mundo que pertencia, e o mundo a qual tive o privilégio de passar a pertencer, a vivência antes e depois de ser mãe, a conhecer a diferença  abissal entre esses dois mundos. Tive minha filha as vésperas de completar 38 anos, e meu filho aos 39 anos, ou seja, tarde, e considero que quase 40 anos (de vida), é bastante tempo.

Foi uma escolha minha (antigamente não queria ter filhos), nunca me sentira preparada para tal, nunca vira aquele romantismo todo de ter bebês, nem de bonecas gostava quando criança, morria de medo de colocar filhos no mundo, perder meu tempo (muitas atividades na minha vida pessoal a serem feitas), dedicar minhas horas pra outros seres, seres novos nesse planeta, seres vivos, vindos de dentro de mim, não imaginava e nem pensava sobre isso, fora que minha mãe teve 8 filhos (minha heroína, principalmente agora), e quando baixava a 'aborrecente" em mim, eu dizia à ela:

- Sai dessa vida!!! Você é masoquista!

No que ela me respondia:

- Quando você tiver filhos, você vai ver!

Ver o quê, respondia? TV? malévola eu gargalhava de minha mãe, e sua vida (de sacrifícios) dedicada aos filhos (8 ao total) onde passou dezoito anos de uma gravidez à outra, embora eu valorizasse tudo que ela fazia por nós com o cansaço físico estampado em seu olhar (minha mãe sorria pouco), eu tinha dó de olhá-la com a vida voltada para nós e não entendia, achava que ela precisava sair daquela situação, queria ajudá-la de alguma maneira, mas nada poderia ter sido diferente, 8 pessoas, é muita gente, é casa cheia, e atividades o tempo inteiro, é servidão o tempo inteiro, abdicação,dedicação, responsabilidades, não há saída, e no fundo eu sabia. Antes de ter filhos, ela também começara tarde pra geração dela (27 anos), casara aos 26, e naquela época uma moça casava mais cedo, assegurava um partido pra não ficar pra titia, ou seja, solteirona. Mas não é bem essa a história de minha mãe, ela também teve sua própria vida, por algum tempo, também foi uma mulher independente e decidida, aos 21 anos saiu de Pelotas pra ir morar em Porto Alegre, no apartamento de um tio, trabalhou como contadora, enfermeira, e quase entrou para um convento, pra desgosto de minha avó, que fez das tripas coração para que ela desistisse daquela idéia absurda, que vendo agora, nem tão absurda era, talvez ela tivesse mais tempo pra si, não teria os derrames cerebrais que teve, nem tantas dores de cabeça...talvez, talvez, mas ela também foi feliz, com os filhos ao redor, boa parte de sua vida, teve sua própria mãe como amiga, cena que jamais esqueço quando minha avó se foi, minha mãe chorava como criança no funeral, perdi minha mãe Dedete (meu apelido em casa), perdi minha amiga...aquilo me comoveu mais do que a morte de minha avó.

Medo, medo inicial, isso sim eu tinha, medo de ser mãe. Queria outra vida, diferente de minha mãe, e uma coisa que ela sempre me incentivou era ser independente, não depender de ninguém, nem de marido, nem procurar casar (nem com bom e nem com mau partido), se encostar, e sim, ir à luta, estudar, trabalhar, ser jornalista como tanto queria desde os 12 anos, ir atrás dos meus sonhos e de minha emancipação, minha revolução pessoal.

Young mother and two children - Mary Cassatt - 1905
A vida teve outros planos pra mim, passei no vestibular de Jornalismo na UC/PEL (estava morando em Pelotas temporariamente) não quis ficar lá por mais quatro anos...naquele interior chato, não me matriculei naquela faculdade, e só no ano seguinte, já em Porto Alegre, decidi fazer Turismo (queria conhecer o mundo) colocar o pé na estrada, já tinha saído de casa (aos 19 anos), e prometera à mim mesma, NUNCA mais voltar, e nunca voltei, radical como sou, só como hóspede, como filha, com minha própria vida desenhada, dona do meu próprio nariz. Anos se passaram, hoje estou aqui, de mãe, divorciada (há 10 anos), cuidando e educando os DD's, sem marido, o que faz uma grande diferença (quando os planos foram feitos a dois), e mesmo assim me sinto forte, praticamente não fico doente (fisicamente), sinto uma proteção incrível ao meu redor, apesar de todas minhas limitações, me sinto uma pessoa energizada, forte, animada, percebi depois do divórcio que tinha que cuidar de mim, deles, que voltaria a ser eu mesma, que os planos de casinha e filhinhos, papai mamãe não tinham dado certo, queria voltar a ser a mesma pessoa com ideais de independência e não de autocomiseração.
Nada me deixa mais feliz do que olhar no espelho, e me aceitar como sou, estou ainda na luta, me sinto ótima, eu mesma, não preciso provar mais nada, não preciso me apegar em bengalas, caio e levanto, mudo de opinião, me contradigo, danço sem platéia, choro sem platéia, não preciso de aplauso de ninguém e não preciso me mostrar forte, nem linda, nem jovem/velha,...eu já sou tudo isso, eu sou o que sou, com o passar dos anos, nossa própria companhia e viver em paz, é tudo que se quer, e saber aceitar que a vida toma rumos diferentes a cada escolha, e que somos o arquitetos de nossa própria casa, mas não podemos fazer nada contra as intempéries, a não ser fazer um bom telhado, colocar boas portas e janelas, nossa casa é nossa base, e uma base sólida, faz toda a diferença no mau tempo.
Mother and two children - unknown
 artist

Um dos motivos de me tornar mãe (da noite pro dia), não, não foi da noite pro dia na verdade, foi tudo planejado e organizado dentro da minha cabeça depois que o tal  relógio biológico tic tac tic tac começou a balançar, a tal natureza, comecei a me interessar...é que de alguma forma percebendo agora sempre fui muito maternal com meus amigos, irmãos menores, mãe de cachorro (estágio?), e ao atravessar a rua, sempre tinha a (infeliz) tendência de pegar a pessoa pelo braço. Teria sido isso instinto maternal? Pode até ser, mas sempre gostei de proteger os mais frágeis (os que considerava mais frágeis), os que ainda não tinham descoberto suas próprias forças, mas em um determinado ponto, algo me dizia que eu precisava ser mãe dos meus próprios filhos, o momento propício teria chegado como um bolo no ponto, que você tem que tirar do forno e não esperar nenhum segundo a mais sequer.

Aqui na Holanda, realizei esse sonho..., pois ser mãe se tornou um sonho, um sonho tardio. Claro que eu jamais imaginava ter os filhos que tenho, nem imaginava que teria uma menina, ou um menino, nessa ordem. Os tive, e isso marcou e mudou o rumo de minha vida pra sempre.


Tornando-me mãe, entrei pra uma outra dimensão...que somente quem é ou já foi mãe sabe (mãe biológica ou mãe adotiva, tanta faz), a responsabilidade maior na vida de qualquer pessoa, vidas que dependem de você, de sua dedicação, de seu vigor, do seu tempo. E mesmo quando eles (quem sabe um dia), não precisarem mais de mim, ainda estarei aqui e terei muitas lembranças, de todas as fases de crescimento e desenvolvimento.

Ás vezes meu filho se pega fazendo contas. Mãe, quando eu tiver 30, você terá 70, e quando eu tiver 60...

- E quando você tiver 60, eu já terei sumido desse planeta, respondo, afinal ninguém sabe do dia de amanhã (não somos imortais) e o tempo é implacável, pois assim se passaram 15 anos...e assim espero que sejam mais 15, quem sabe mais 15...e talvez mais 15, nunca se sabe.
Beethoven


Thursday, October 6, 2011

Nunca te vi, sempre te amei


Finalmente, depois de tantos anos conheci um amigo, que só conhecia via telefone, mensagens e por internet, e não é o primeiro.

O à Parri, paulistano que mora em Paris, e de lambuja o simpático gato de duas patas Richard, se pronuncia, Richár(d) também deu o ar da graça em solo holandês, francês da gema de Dijon, terra da saborosa mostarda que dizem que é importada do Canadá. P. por pouco não mora aqui na Holanda, porque até umas palavras de holandês ele sabe, e antes de morar em Nova Iorque (sim, o rapaz corre mundo), ele apareceu por essas terras aqui, mas acabou não ficando, e desde 2001 mora à Parri.

Se não estou enganada, conheço o P. desde 2008, quando ele timidamente apareceu num comentário no blog, querendo me mandar um presente, pois tinha lido a postagem eu quero chocolate.
Eu  lhe escrevi um email dizendo pra não me dar presente, mas sim me escrever uma carta. Ele me adicionou na rede social Orkut (nunca foi muito ativo) ou tanto quanto eu, e iniciamos nosso contato.

dois gatos de 4 patas
A carta se iniciou em fevereiro de 2009, e só me enviou em junho (mês do nosso aniversário), (ele também é geminiano), e não só me enviou o DVD do filme, como vários presentes que deixaria qualquer mulher com a pulga atrás da orelha, se fosse o caso, foi um grande ano aquele de 2009, lembro muito bem, ano decisivo na minha vida, ano de muitas mudanças internas, e novas experiências, ano que encontrei Pier (que fez um jantar judaico inesquecível pra mim de aniversário) em Londres, meu irmão também estava em Londres, encontrei Marcelo Albuquerque (que morou em Lisboa, mas já voltou pra São Paulo retornou à Londres, agora está em São Paulo novamente, ufa), Renato (amigo do Sérgio), ano que acabei meu namoro com o Coelhinho (o traste, parafraseando a falecida Charlotte Maluf), ano que fui ao Brasil com as crianças (como o planejado: minha amada São Paulo, Porto Alegre, Serras Gaúchas, e Florianópolis), bebi muito guaraná, comi muito doce de leite, fui à muitas padarias, vi muito verde, e essas coisas que se fazem estando em Terra Brasilis, um ano bem marcante na minha vida.

CD - jornais, revistas, mint do Shakespeare
Desconfiadíssima que sou, lá pelas tantas, chegou um pacote tamanho família pelo correio...mas sabia que nele poderia confiar, pelo teor da prosa que mantivemos nesses anos todos, a sensível e engraçada carta a prestação que ele escreveu em próprio punho (e que caligrafia bonita, raridade hoje em dia, as pessoas têm muito garranchos), um CD do Antony and the Johnsons (que pra dizer a verdade foi meu debut), uma mini champagne rótulo cor de rosa, bem coisa de menina, uma água spray pra borrifar o rosto, uma sacola (Le Sac) que uso até hoje pra fazer compras, uns milhinhos (coisinhas pequeninhas que eu AMO DE PAIXÃO), será que esqueci algo relevante?

Na última vez que estive em São Paulo em 2009, coincidentemente fiquei hospedada no meu querido anfitrião Cacá de Guglielmo, que mora na rua Luis Góes em São Paulo no bairro Vila Mariana, com os DD's, pra minha surpresa, à Parri. iria ao Brasil visitar a família (mãe), e não é que a mãe dele mora na mesma rua? Sim, desde o tempo da vovó dele. E ele estaria indo pra lá também no verão de 2009. Mas infelizmente, outro desencontro houve, pois estive no sul do Brasil também, quando ele estava chegando, eu estava partindo, ainda não fora essa a vez de nos encontrarmos, continuando essa saga.

Como ele vai todo ano ao Brasil, ano passado foi novamente, e me perguntou:

- O que você quer, cherri?

CD maravilhoso pra variar, conheci My TV is dead
- DOCE DE LEITE...apesar de que aprendi a fazer aqui, é só colocar umas latas de leite condensado na panela em banho maria, e esperar uma eternidade, na faixa de 3 horas ou mais horas, que fica parecido, na panela de pressão é obviamente mais rápido, mas não gosto de panela de pressão, uma vez vi um feijão preto em ação no teto da cozinha de minha casa, eu era pequena e fiquei olhando aquela chuva preta, que mais parecia um geyser, pra desespero de minha pobre mãe, cozinheira de forno e fogão.

aAno passado me mudei, depois de morar quase 14 anos na mesma casa, morei 8 meses na Haarlemmerstraat (rua das lojas), mas às vezes até esqueço. Saí da pracinha na Ververstraat, e vim morar na Uiterstegracht em Leiden, mas sem querer eu passei o número errado da minha casa pra ele, um algarismo.., por pura distração. E talvez até pensando, pára de me dar presente menino! Mas sempre adorando, quem não gosta desse tipo de atenção?

Tentando encurtar essa estória que até pra mim é cronologicamente confusa, em fevereiro estive quatro dias em Paris pra comemorar um 1 ano de namoro com o J., e achei que finalmente iríamos nos encontrar, mas ele pra meu desgosto estaria em Berlim :-(, ou seja, ainda não seria dessa vez, e dá-lhe mistério!
1 ano de namoro à Parri

o gatinho parisiense de 2 patas deles
No hotel recebi um pacote, o mesmo que houvera mandado pra minha casa nova (mas com o número errado), o pacote retornou à Paris, finalmente recebi o tal colis enviado por ele por uma amiga russa senão me engano, que foi até o hotel deixar pra mim, sendo que tinha até o tal doce de leite do Brasil, vários milhinhos encantadores, chás, bilhetinhos, cartão de visita fofo com um clips de gatinho, o hilário The_Book_of_Bunny_Suicides  e um pano de prato com crochê na borda (feito por uma senhora vizinha de SP da Luis Góes), tipo tia avó, mas nada de P. só 'coisas', e por mais legais que sejam, são coisas. Feliz e acabrunhada fiquei.

2011 - verão, ele estaria também na Grécia, mas em outra ilha, num workshop de dança contemporânea, e eu de férias sem os DD's. A coisa já estava até virando Pastelão, mas eu sabia, que logo o dia do nosso encontro não tardaria, já que tempos atrás convidei-o a participar do Facebook, pra facilitar nosso contato, e novamente ele não é lá muito fã de redes sociais (enquanto escrevo essas linhas ele estará no Japão, pela segunda vez, ou seria terceira?), vida interessante, super-cultural, meigo, fofo, o rapaz é viajado(odeio esse termo), e nem tem essa necessidade virtual, de profissão é jornalista, vive fazendo free-lance aqui e ali, faz sapateado, participa de saraus, borda, tricota, come farofa, cuida dos dois gatos, de 2 e quatro patas, ou seja, uma pessoa completa, e um amigo daqueles de alma.

aqui a foto mais inteirinha, a bateria da Cool pix acabou bem ai, pode uma coisa dessas?
2011 - setembro, dia 20. Marcamos  anteriormente via email por Facebook (também facilita a vida), pois ele estaria em trânsito no aeroporto de Schiphol por 4 horas vindo de São Paulo pela KLM, e combinamos de nos encontrarmos e finalmente deu tudo certo. Lá vem ele, com um monte de jornais impressos à moda antiga (Estado de SP, Folha de SP), doce de leite na palhinha, balinha de menta do Shakespeare, um CD maravilhoso envolvo em craft, feito por ele mesmo do Sarau de primavera em Paris, e a coisa mais importante, em carne e osso, e ainda por cima com o gato de duas patas, outro meigo, amado.

Ficamos conversando as 4 horas, lanchamos, tomamos café, quase nem deu tempo de tirar fotos, era assunto que não acabava, e Richard fala muito bem português com aquele sotaque carregado e cheio de charme francês...fiquei apaixonada pelos dois, nosso encontro foi simplesmente divertidíssimo, conversamos de tudo, rimos, e até quase choramos (coisas da vida), andamos pra lá e pra cá, e combinamos de nos rever em um futuro próximo. Irei à Parri, ou eles virão pra cá, porque ganhei dois amigos valiosos pra minha lista de amigos especiais, que cabem no meu coração que é bem grande, mas não é pra qualquer um.

Je suis enchanté! não vejo a hora de saber das novidades do Japão, e que os dois tenham uma boa, aliás excelente viagem! A bientôt...tot ziens gatinhos! miau...


Tuesday, September 13, 2011

Melancholia

Fui assistir o espetacular "Melancholia", novo filme de Lars von Trier leia a biografia incompleta aqui (antes de Antichrist e Melancholia) pra quem não conhece esse excelente diretor , um dos meus favoritos, pois pra mim Dogville foi um dos melhores filmes que vi em toda minha vida, Dancer in the dark também com a nossa diferente Björk que ganhou o prêmio de melhor atriz em Cannes em 2000 e nem atriz é, e acabou de lançar o álbum Biophilia que tem até aplicativo pra Apple, uma jogada multimídia, show, música experimental, e cositas de Björk más, mas chega de B.

Depois do carregado Antichrist estava esperando algo mais light visualmente, porque Antichrist foi osso duro de roer e digerir, tendo como tema o processo de luto de um casal pela perda do filho, o primeiro filme que ele fez na fase de depressão, e por mais que saiba das várias metáforas que ele usou no filme, não há como negar o desconforto, é o tipo de filme gênero passos no escuro da mente humana, que a gente nem imagina onde vai dar. Melancholia é o segundo e bem diferente, a gente já entra no cinema que o mundo vai acabar. Todo mundo já falou bastante desse filme aclamado no último Festival de Cannes, e os comentários do Lars sobre anti-semitismo dizem (interpretado por alguns) durante uma entrevista coletiva pra imprensa, onde foi considerado persona non grata no festival. Dizem que Lars foi ao festival da Dinarmarca até a França de carro, por medo de avião, ele não conhecia a música do Belchior, e nem foi criado pra externar suas emoções na infância, mas ele chegou lá, e a vampirinha Kirsten Dunst saiu linda e loira com a Palma de Ouro de melhor atriz na mão, só essa expressão (foto) faria jus ao prêmio.
expressão de depressão de Justine

Não quero fazer fuxico sobre os comentários, pra mim não significou muito, ele ter falado bobagens, ou idéias contraditórias, quem não fala? Gente que esconde o verdadeiro eu dos outros, e o Lars é o tipo da pessoa que não esconde nada, é só assistir seus filmes, o que reitera mais ainda seu pensamento out the box e seu talento como cineasta.

Pra mim o filme teve um gostinho muito especial, como já passei por depressões (foi uma fase curta e grossa da minha vida), onde desci ao chão, e o mundo não acabou, tudo continuou...só que consegui sair do limbo, graças ao help que gritei ao mundo em forma de médicos, química, visitas ao psiquiatra, psicólogo, yoga, tratamento vários e muita auto-educação psíquica que me ensinou a deixar de controlar as coisas na vida, principalmente as que fogem do nosso controle, e principalmente o presente de aprender as técnicas de respiração (pranayama) que uso até hoje. Na depressão o medo é vigente e evidente nos momentos mais seguros de uma rotina do dia-à-dia, como tomar banho, preparar uma refeição, preparar as crianças pra ir à escola, recordo que ataques de choro eram lugar comum com ou sem motivo, vergonha uma palavra inexistente, desespero, síndrome do pânico (uma das partes de maior agonia), agressividade descontrolada, pensamento suicida, paralisia, labilidade, interesse algum em nada.

O Tsunami passou e deixou sequelas profundas mas também para o bem, hoje sinto que o carvalho pode cair novamente, e procuro me policiar, bem diria me cuidar a cada sinal que meu corpo manda, pra que isso não ocorra novamente, pois não há glamour algum na depressão, não há orgulho, não há deuses nem anjos protetores, é uma doença que se manifesta para alguns outros não. O filme de Lars  tem uma belíssima fotografia, e o planeta metáfora "Melancholia" cria uma atmosfera por incrível que pareça de paz e ao mesmo tempo sinistra afinal vai dar cabo do nosso humilde planetinha cinicamente falando e vai levar o lodo todo junto, as divinas cenas iniciais em slow motion são imagens de drama, mas um drama antevendo a tragédia mor o final do mundo, uma noiva correndo com seu vestido branco arrastando raízes, galhos e tudo mais, uma mãe desesperada tentando fugir de galocha afundando na grama molhada pela estranha chuva segurando nos braços uma criança, a profundeza dos personagens, o prelúdio da ópera Tristão e Isolda (quando Melancholia se aproxima da Terra) nos minutos iniciais do filme, os medos dos personagens...que muitos nós temos, a sensação de apego e controle às coisas pra nos sentirmos seguros, causando situações ainda de mais insegurança e medo, o mundo, a vida não vale nada. "The earth is evil", melhor assim, já vai tarde.

O filme é dividido em duas partes: a primeira parte se chama Justine, e a segunda Claire, as duas irmãs.

Justine e Claire
"Ela é doente". Assim se refere Claire ( pra irmã depressiva Justine), e uma pessoa doente precisa de cuidados, não é vítima, o algoz seria a doença em si a depressão (o incômodo), o estorvo, como uma pérola dentro da concha, mas o marido de Claire é muito rico, se orgulha de seu campo de golfe de 18 buracos, ele pode muito bem comprar telescópio caro, ter haras, pagar o táxi da irmã moribunda que está na cidade. Assim também é a depressão, tristeza, cheia de buracos. O incômodo profundo transformado em algo belo, porque só aquele que foi ao fundo do poço sabe o valor precioso de um dia comum, uma respiração calma, o sorriso de uma reflexão qualquer, levantar, tomar café, sentir o vento, tomar banho, escovar os dentes, abrir os olhos, e ter a coragem de sair lá fora dar o primeiro passo, olhar pra fora, e ver pessoas e não bonecos passantes, vencer o medo e viver. Ou pelo menos é isso que senti e sinto agora, sobre depressão, no caso a minha. No filme Justine se transforma da pessoa a ter depressão (fraca), a pessoa que ajuda a irmã boazinha e empática mas que vira frágil e descontrolada. Na hora do 'vamos ver' Justine é a forte também ajuda o sobrinho a esperar o final do mundo (o planeta Melancholia colidir com a terra) a fazer uma cabana mágica, de tacos/galhos de árvores. Juntos de mãos dadas bem à moda primitiva, parece menos estúpido do que ficar bêbadas no terraço.


Casinha de Sapê
Sai do cinema muda, normalmente consigo proferir algumas palavras pra quebrar o gelo, mas nesse caso, senti que foi uma viagem minha, bem particular. A espera do final do mundo é dolorosa, agoniante, mas o final é feliz, porque tudo acabou, o filme acabou e assim acabou toda a tristeza, o mundo acabou e pude voltar pra casa no conforto do meu lar, a depressão acabou, e agora quero assistir a 'A árvore da vida' pois a vida continua, depois de Melancholia e nada como um filme bom após o outro.



A tranquilidade das manhãs de domingo

Na verdade a manhã se passou, a manhã de domingo. Acordei antes do despertador. Não acho ruim, com essas musiquinhas bacanas de celu...