Wednesday, December 3, 2008

Blindness


Tá difícil de sair de casa pra ir ao cinema nesse final de ano.
Só tava passando coisa que não estou muito interessada de ver nos cinemas da minha cidade, e com esse frio, não tenho o mínimo ânimo de ir pra Haia, ou Amsterdã...sózinha.
Sim, porque vou ao cinema só sem nenhum problema, mas se é pra ir ao cinema por ir, fico em casa assistindo um DVD ou mesmo na net, que estou me divertindo bastante.
No Brasil nem dava pra ir só, sempre tinha companhia, sempre tinha coisa boa passando, mas isso também já passou...porque eu tô escrevendo isso?
Bom, essa é as desvantagens de morar no frio, e em cidade pequena...mas não posso nem colocar a culpa na cidade, porque até tem bastante atividades culturais, meu tempo livre que é escasso, sexta ou sábado a noite...então em média, são 6 dias no mês que tenho livre pra ir ao cinema a noite.

Sábado passado descobri um filme bom pra ver, Blindness. Mas estava me sentindo um pouco envergonhada pois não li o livro em que o filme foi baseado, o livro que quase todos que se interessam por literatura da língua portuguesa deveriam ler, o Ensaio sobre a Cegueira, que quase todo mundo sabe foi o primeiro romance na língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de literatura.Eu fiquei toda arrepiada com a notícia na época, e queria correndo ler, mas acabei deixando pra depois, e o depois não chegou.

Como assistir o filme antes de ler o livro?
Facinho fui mesmo assim, porque queria mostrar pro meu novo amigo, que o diretor era um brasileiro, e que era baseado no livro em português, pra holandês iniciante é uma aula de cultura estrangeira, e ele agora está tendo contato direto com a minha cultura, a minha língua por enquanto não, porque só conheceu duas amigas portuguesas que falam inglês. Mas está interessado em sair comigo, em ficar comigo nos finais de semana. Nos dias de semanas ficamos namorando por SMS, apesar de morarmos na mesma cidade, e já é bem-vindo no meu mundo, de cinema, na minha música, meus amigos, minhas festas, no meu coração porque é uma pessoa ímpar...(filhos vou deixar pra mais tarde).

Tenho as crianças, ele tem o trabalho, enfim.

É estranho se ir ao cinema quando se está assim como eu tranquilamente apaixonada...sim é assim que me vejo.
Se vai de mãos dadas, fica-se junto, grudado...de vez em quando um olhar no escuro, só não rolou beijo que o filme não tem nada que combina com beijo, só no intervalo no meio do filme, muito comum aqui onde moro, pára tudo, se toma café, cerveja, vinho, chocomel, fuma-se um cigarro lá fora...e fumar junto é tão romântico.

Um certo desconforto inicial, me lembrou Dogville...aquela tela esbranquiçada, aquele povo sem enxergar nada, como eles se sentiram?
Qual o tipo de laboratório que fizeram?
Que cidades eram aquelas?
No livro era Lisboa, mas reconheci algumas partes de São Paulo, seria Itália também?
Não sou tão viajada assim pra reconhecer o background daquele caos todo.

M A G N í F I C O, incrível...e depois de vários dias, ainda estou com tudo aquilo dentro da minha corrente sanguínea.
Fernando Meirelles cometeu umas gafes, li depois ...mas o todo, ficou divino.
E a vontade louca de sair lendo o livro, o original em Português luso, que vou ganhar do meu irmão quando ele vier pro Natal.
Obra de arte total, aquilo que você raramente vê nos dias de hoje no cinema, que criatividade, que pathwork de temas, político, social, humano.
Que raiva que me deu, que sensação estranha, gosto disso, porque chega uma parte da história que tudo fica redondinho.
E não poderia ser de outro jeito, que mente.
Não sou lá boa crítica...mas é diferente, de quase tudo que já vi, mas ainda me lembra Dogville, no lado da maldade que emanada de certas pessoas, em situações conflitantes, de poder, de sobrevivência - salve-se quem puder, only the strongs will survive, mas não na força física, na clareza de poder ver, depois li que o Saramago mora numa ilha por 14 anos, mora ilhado...com a mulher, numa ilha vulcânica lá nas Canárias...

Como essa metafóra da cegueira, ilustrou bem o que se passa ao nosso redor, dentro de nós.
Lembrei-me dos meus tempos de infância, quando faltava luz, nos reuníamos ao redor de uma vela, ou lampião...e ficávamos contando causos...no nosso alpendre lá no alto da Visconde Duprat, olhávamos as luzes ao longe, contávamos estrelas, estávamos unidos, e inconscientemente dáva-mos vazão ao nosso lado caloroso,contávamos anedotas, minha mãe sempre na retaguarda, ouvindo neutra, na minha grande família do sul do Brasil, unidos, éramos felizes quando faltava luz...mas logo ela vinha, e alguém dizia.

Chegou a luz, e aquele elo criado no escuro entre a gente, se evaporava com a claridade...ficava até um constrangimento no ar, não era a mesma coisa, tinha que ser melhor com a luz, era melhor aquela eletricidade toda, mas nos distanciávamos.
Cada um ia pro seu canto, achando que assim era melhor, na nossa cegueira.
E diz o ditado popular: o maior cego é aquele que não quer ver...
Mas eu acho até que nem é uma questão de querer, ele é cego porque só quer enxergar com os olhos, mas só os olhos é muito pouco.
Meu óculos novo ficará pronto em duas semanas. Meu novo amado, ajudou a escolher com muita paciência a armação em várias lojas, aliás eu escolhi...e depois levei-o pra confirmar, se tinha o aval dele ou não. E ele não pode negar a sobriedade e sofisticação de Paloma Picasso e rendeu-se.

Quanto ao filme, meus amigos.

Vejam com vossos próprios olhos!

3 comments:

Beth Blue said...

Amei a estória de tranquilamente apaixonada!!! Vou ficar aqui torcendo por você ;-)

beijos

Anonymous said...

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."

olá bebete... a frase aí em cima está na contracapa da edição lusa do 'ensaio sobre a cegueira'; você vai ver que o 'mergulho' no livro é mais profunda, mas curti bastante o filme. Ah, tem até um blog que o próprio Fernando Meirelles escreveu ao longo da filmagem/montagem: http://blogdeblindness.blogspot.com/

Toda a parte do 'enclausuramento' foi filmada num hospital (ou seria presídio?) desativado em Toronto, já o resto é quase tudo São Paulo mesmo (filmaram apenas algumas cenas em Montevideo)... por falar em SP, se você for para lá, ou quiser sugerir a amigos, tem uma exposição sobre o Saramago que é muito boa. Chama-se 'A consistência dos sonhos' e é no Instituto Tomie Othake

DE RESTO, valeu pelo seu olhar sensível e tranquilo...

beijo,

plinio

Unknown said...

amei também!!!!

A tranquilidade das manhãs de domingo

Na verdade a manhã se passou, a manhã de domingo. Acordei antes do despertador. Não acho ruim, com essas musiquinhas bacanas de celu...