É muito estranho acordar, ver que um dia bonito vai fazer lá fora, com uma luminosidade que promete um sol brilhando mais tarde, ir até o quintal e constatar que tem um rato morto, prostrado assim...pela passagem, e imediatamente o que te vem na cabeça é asco, e não chegar muito perto por via das dúvidas, nunca se sabe.
Constato que ele morreu afogado, sim...na noite anterior chovera muito, quase tive uma inundação, esse chão de areia holandês, vai descendo cada vez mais, e as casas vão ficando tortas, e o chão vai ruindo, volta e meia é preciso fazer nova pavimentação.
Ele se foi.
Não tenho gatos, mas o rato se foi, digo, camundongo, mouse, muis...
E nem colocar no lixo posso, porque o lixeiro passa duas vezes por semana, e está tarde demais.
Vou deixá-lo ali, pra ele embrulhar meu estômago cada vez que for pro jardim fumar.
O que deveria fazer com ele, afinal?
Trazê-lo pro lixo da cozinha, e ele ficará se decompondo até a noite de amanhã dentro da minha casa(quinta feira), quando terei o aval pra colocar o saco de lixo lá fora? Sexta feira passa o caminhão do lixo cedo pela manhã...
Na calçada ele não pode ficar, virão gatos...aliás será que um gato gosta de rato morto, ou é somente caçador??? Não, na calçada eu ganho multa, e é contra meus princípios, além de que é bem perto da minha porta de entrada, e não fará lá muita diferença, dentro do saco, fora do saco.
As moscas e formigas já começaram a fazer um banquete, parecem rituais primitivos ao redor...o sol vai pra trás das nuvens timidamente, ele vem e vai, e as moscas vêm e voltam, mas ele continua ali, inerte, nojento, estático, sem vida, sem funeral. Porque se ele fosse um ratinho de estimação, com certeza faria um ritual com cruz cristã e enterraria em um terreno baldio (que não existe na Holanda), ratos brancos vão pro céu e como no Eraserhead "in heaven everything is fine", já dizia a Lady in The Radiator, mas rato sem dono, cinza ou preto, não merece funeral, vá que ele tenha tido uma vida fora da lei, vá que tenha sido pedófilo, bandido ao contrário do Robin Hood, que nem políticos no Brasil que roubam os pobres pra dar pros ricos, ou que não tenha se comportado bem na casa dos pais, e fugido...e assim, não achando o caminho de volta, bateu as botas. Ratos de cor de burro quando foge, são ratos duvidosos. Os brancos são limpinhos - tá me parecendo coisa de espírito de Hitler.
E com uma das poucas amigas que consigo falar ao telefone (e ter assunto), sem precisar mascarar minha felicidade ou infelicidade, ela supõe que o meu meio está Kafkiano, e é verdade...e não melhor do que a morte desse pobre ratinho, condenado pelo destino, sem parentes, sem funeral e ainda por cima ser chamado de nojento, por mim uma pobre bip tentando se desafogar das águas da depressão central.
- Filho, não chegue perto, ele "transmite" doenças! (era o que minha mãe dizia), rato cinza é rato ruim, a peste, agora digo mesmo pro meu filho, e repito tudo, não ande de pés descalços, pegará friagem, não coloque pentes/escovas e jamais sapatos na mesa.
E coincidência ou não, as mortes verdadeiras circundam o meu universo, portanto o nosso, o acidente da TAM vôo 3054, que saiu de minha cidade natal (Porto Alegre) para São Paulo (o perigoso aeroporto de Congonhas no meio das cidades, dos edifícios, casas, postos de gasolina...nitroglicerina pura como dizia o desenho CAIU, e lá se foram quase 200 almas, dentre elas...um deputado federal (gaúcho) e outros VIP anônimos, comoção nacional.
E muitos comentários, notícias. E acharam a misteriosa caixa preta, mas as vidas não voltam pra contar suas versões.
E o rato não volta pra contar sua estória, e ele era um desconhecido pra mim, e na lista dos quase 200....só vi nomes, felizmente nenhum parente, nenhum amigo, conhecido...todos strangers como o rato.
- Não confunda rato com camundongo, dizia a minha "mesma" mãe...(mas o shape é o mesmo, o tamanho que muda, a cor, tonalidade) digo eu.
Todos se foram, e nada foi como esse blog, por acaso.
Dead is in the air.
5 comments:
E com uma das poucas amigas que consigo falar ao telefone (e ter assunto), sem precisar mascarar minha felicidade ou infelicidade, ela supõe que o meu meio está Kafkiano, e é verdade...
Estou aqui pro que der e vier viu...não se acanhe! se precisar desabafar ou trocar figfurinha é só ligar. e haja Kafka ;-)
Eu sou mais uma. Bater papo é mesmo um saco nessa fase, mas precisando de ombros, braços e ouvidos amigos pode contar comigo.
Pedir ajuda é mesmo difícil. Hj precisei levar o Daniel no médico durante a pausa do almoço. Uma correria danada. Fiquei pensando: seria bom ter minha mãe saudável viva e por aqui para me dar uma força com essas coisas...
EfeXor é bom, vai dar certo.
Bebete querida, fique bem, viu? Olha, "intui" que você tava "recolhida", mas Amsterdam, Berlim, Leiden tudo isso é muito nearby. Chances não faltarão. E outra; queria fazer um adendo a esse seu último post e dizer o seguinte: no tarot egípicio a carta da morte significa a morte de um ciclo, ou seja: é uma carta positiva. É necessário morrer, pra deixar nascer. È preciso matar velhos dogmas, para que nos purifiquemos, para que outros novos conceitos e filosofias e estilos possam chegar em terreno livre,puro e virgem. Mas a co-existencia de ambos,ou seja do velho e do novo, nesse caso só traz o estancamento, a paralisia e o enguiço. Morra sim, mas se permita (re)nascer para essa tal felicidade, que as vezes é tão simples, que chega até ser simples demais, e por isso é que complica.
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