Monday, April 21, 2008

Domingo de imagens


Finalmente pude fazer nesse final de semana passado o programa que mais gosto.
No sábado dormir até tarde e não ser acordada por nenhum barulho de telefone e nem sino de igreja, e no domingo fazer um passeio em Amsterdã, sem compromisso social, nada de aniversários, festas aqui ou ali, afsprakjes(encontros marcados anteriormente), liberdade total...agenda deixada em casa.

Eu e P. fomos ao Stedelijk Museum(Museu municipal de Amsterdã), ver a exposição dos 60 anos da Magnum, antes que fosse tarde demais, pra quem se interessa por fotografia com conteúdo, social, político, jornalístico e de excelente qualidade vejaaqui.

P. é um excelente fotógrafo, uma das razões que fiquei fascinada por sua pessoa e seus lindos olhos azuis(que ele jura que são verdes), mas ultimamente está mais engajado com o site informativo pelo reconhecimento do Genocídio dos Armênios pelos Turcos (Império Otomano) em 1915 na época da Primeira Grande Guerra, é uma pena pois o gancho de nosso relacionamento foi porque eu gostei muito do website que ele tinha, percebia um estilo à la nosso Sebastião Salgado, que também pertenceu a Magnum, mas depois galgou vôos maiores e individuais e o P. uma pessoa com idéia humanista plenamente ilustrada pelos portraits em black&white feitos por ele.

Gostei muito de ir a exposição e ver a diversidade e a nobre filosofia coletiva da Magnum, não sou muito ligada em conhecimentos técnicos de fotografia apesar de ter feito um curso de fotografia do SEnac que estava no currículo do segundo grau (Desenhista de Publicidade), e também na Faculdade dos Meios de Comunicação Social/PUC que prestei o curso de Turismo no século passado em Porto Alegre, aliás eu gostava mais de todas cadeiras que não propriamente se referiam a turismo, e fotografia sempre foi uma delas, mas como fotógrafa morreria de fome, gosto de movimentos e palavras.


De quebra comprei um poster da exposição anterior do Andy Warhol, como revanche de tê-la perdido...Mas eis que num momento de conflito de opinião, P. me deixou no museu porque ele começou a dizer A e eu comecei a dizer Z.

Quando percebi que estavam comigo os dois tickets do trem ida e volta (Leiden - Amsterdã - Leiden) sai do museu pensando com os meus zíperes, e nisso um menino (da faixa dos 20 anos, no máximo) me pede fogo, me desconcentrando.
E começou a perguntas, se eu era francesa, da onde eu era...fico toda feliz quando vem alguém dessa idade e mostra interesse, quem não ficaria, significa que a minha teoria do invisível* ainda não chegou. Segundo, ele é marroquinho, nasceu aqui mas não se sente holandês, apesar de ser todo "cool" ocidentalizado, e um pouco diferente dos marroquinos que conheço. Falou que adora o Marrocos e vai todo ano pra lá, nas férias de verão (julho/agosto), e que tinha um amigo que morava em Natal no Brasil, e fala que os brasileiros são muito simpáticos como povo.
Bom, quem não gosta de ouvir palavras assim de um fofo com t-shirt cor de rosa bebê.
Fomos caminhando juntos e conversando e contei pra ele sobre o museu e a diferença de opinião com o meu namorado, e que não era a primeira vez mas que estava com os tickets do trem.
Ele disse:

- Liga pra ele.

Eu respondi:

- Não porque ele com certeza não vai atender o telefone.

Nisso avisto meu querido novio(parafraseando uma amiga drag em Madri, a ex-Nika Paris) sentado encima de um muro lendo um jornal, e me despeço do menino, só que a velha aqui ainda é do tempo de dar a mão, e ele deu o punho cerrado naquele cumprimento hip hop/rap...hahahaha, é nessas horas que eu percebo que estou quase dobrando o cabo da Boa Esperança.

E como o dia estava mais para sorvete do que café eu e P demos um passeio a pé pelo centro, coincidentemente na praça Dam P. avista uma amiga minha, o marido e a filha Maya, batemos um papinho e seguimos em frente.
Lu minha amiga, é a mentora do projeto Coisas do Brasil junto com o marido holandês Niels, as mesmas festas SORRIA, que eu às vezes trabalho ou vou.
É impressionante que quando tem sol na Holanda, as pessoas querem aproveitar o máximo possível na rua.

Passei pela frente da livraria Gay&Lesbian Vrolijk e não pude deixar de entrar, pegar um mapa gay da cidade e bater um papinho com o simpático vendedor de nome Erik e jogar uns confetes na loja, que está cada vez melhor, livros, DVD's, CD's, cartões, assinaturas de autores, debates, super.
Descobri essa loja há anos atrás, na segunda vez que visitei Amsterdã e desde então é um dos meus pontos favoritos.
De quebra Erik também me deu uns marcadores de livros lindos.

Demos mais algumas voltas pelos canais, apreciando a paisagem urbana, e paramos no Ovidius perto do Magna Plaza pra tomar um café au lait (café olé) hehehe.

Na volta de trem para casa, escolhemos um lugar vazio... eis que antes de partir sentam ao nosso lado, 4 torcedores do time AJAX com latas de cerveja na mão, sim com aquelas caras assustadoras de hooligan, ui e bafo de pinga.
O marmanjo que sentou ao meu lado, me ofereceu um gole da sua Bavaria - como se eu bebesse cerveja e quente...e ainda de estranhos, argh!
Aproveitando para dar uma lida num Herald Tribune - tem sempre jornais e revistas de grátis jogada pelas pessoas nos trens, que vem de outros países ou vão, vide que Leiden (minha cidade) é caminho do Aeroporto de Schiphol, há sempre trem...até nas madrugadas, vantagem de morar em Leiden, e mais vantagem ainda de morar no centro de Leiden...consegui ler um pequeno artigo que questionava se você adicionaria seu chefe na lista de amigos do Facebook e MySpace.

Eis que no papo dos carecas de camiseta vermelha (leia-se torcedores do Ajax), eles começam a falar mal do goleiro do PSV(outro time aqui na Holanda), onde já jogaram Romário, Ronaldinho e agora o excelente goleiro Gomes, típica observação de torcedor derrotado se auto-consolando.

Esse tal de Gomes é muito bom, eu acho que é aqueles novos talentos que são vendidos pro exterior, depois de encher o cofrinho, e ter experiência com outros tipos de estilos de futebol, voltam pra casa e são selecionados para a próxima seleção.
P. que estava a minha frente, e pressentindo a minha reação...quando eles falaram palavrás grosseiras, rudes por puro despeito e de baixo calão, olhou para mim pensando:
"Como será que ela vai reagir"...

Eu não lembro mais como começou o papo, mas certamente de uma maneira muito irônica e bem humorada de minha parte, desisti profissionalmente de futebol aos 17 anos mais ou menos, meu fanatismo iria me causar um ataque cardíaco, quem é de cidade média como eu onde somente dois times de primeiro escalão existem, deve saber sobre o que estou falando.

Trocamos afinidades, pois justamente pela derrota do meu time o Grêmio contra o Ajax em Tóquio em 1995 pelos penaltis, fez com que eles citassem minha cidade Porto Alegre, e até a nossa bandeira tricolor (preto, branco e azul).
Grêmio colocou Porto Alegre no mapa, antes do Forum social mundial.
E assim é o sport, coloca indivíduos e bandeiras na spotlight, e alguns jamais serão esquecidos, digo, as cidades, os times, alguns atletas, e as paixões por determinado esportes que fazem o sangue ferver nas veias, esses momentos de pura emoção, ninguém esquece.

Logo vai começar as Olimpíadas na China, logo vai começar a copa européia de futebol (adoro), que é super interessante. Não sou aquela fanática mais, mas em vi xingando o adversário do meu filho no último torneio de judô e judô não é futebol. Apesar de que muitos falam, o esporte e a música a meu ver, unem mais as multidões e as pessoas do que separam, já a religião e a política é diferente, mas claro basta ter um senso esportivo (saber perder), e se ganhar...não a superioridade temporária com sabedoria.

No final nos despedimos dos trogloditas...viraram meu amigos de infância por alguns momentos, simpáticos, gentis...elogiaram o meu holandês e no fundo eram rapagões bem educados, falamos do calvinismo holandês, do Wilders e seu filme que eu ainda não vi, e outros assuntinhos políticos que era mais campo para P.

Um domingão sem Faustão.


* Teoria que evidencia que quanto mais velhos em idade ficamos, mais invisível nos tornamos aos olhos dos outros mais jovens, principalmente de estranhos.

2 comments:

Beth Blue said...

Que legal seu domingo em Amsterdã...por ironia do destino, eu passei meu domingo em Haia (pra variar). Demos umas bandas pelo centro, tomamos cerveja no Boterwaag (Grotemarkt) depois jantamos no delicioso Little V ali perto...e ainda tivemos tempo de pegar um tram e ir assistir o pôr-do-sol em Scheveningen!!! Vida dura, hein?

PS. Meu Deus, preciso urgente ir à tal exposição da Magnum antes que saia daqui...

Anonymous said...

Bebete Indarte....

Sempre sinto saudades de você... e olha que nem me conhece... mas eu te conheço que é o mais importante...

Um dia o google deu um jeito na saudade e to aqui lendo sempre seus blog...


Sabia que uma vez nas festas que fazia no Casarão da Paulista, você sorriu pra mim e eu fiquei todo feliz... ai Bebete olhou pra mim...

Beijos Fofa...

Adilson
Moro no Brasil

A tranquilidade das manhãs de domingo

Na verdade a manhã se passou, a manhã de domingo. Acordei antes do despertador. Não acho ruim, com essas musiquinhas bacanas de celu...