Wednesday, July 28, 2010

Tia avó de São Paulo


Foi-se o dia que eu era uma pessoa multi-tasker e que gostava de estar em todas. Aliás quando o fui, nem pensava sobre isso. Hoje em dia, meu ritmo de agir, de executar tarefas, obrigações, e também diversão (como me divirto) mudou, aliás, não acho isso nem bom, nem ruim, mas estou ciente das minhas limitações da minha vidinha de quase 14 anos de Europa, 12 anos como mãe, e 8 anos de divórcio, e também das prioridades de vida, eu não preciso estar em todas.


Não gosto de multidões, de sempre ESTAR NA FESTA, de beber champagne todos os dias, estar de salto, toda maquiada todos os dia...coisas que antigamente eu fazia sem problemas, hoje custa pra mim muita energia, e fora que faço questão de ser assim, fora de MODA. Malas e viagens o tempo inteiro me cansam, aeroporto me cansa, porque só posso viajar em épocas de alta temporada, e quem trabalhou em turismo como eu, sabe o quão chato é aeroportos lotados, vôos lotados, overbooking, criança chorando em classe econômica, trem de segunda classe...barraca de camping a dois, só com o soulmate quando se tem/teve 20 anos...


Aliás meu estilo de vida atual, está muito virtual, zen, mental, e também contraditório que me ajuda muito a nunca ter tédio de minha própria companhia, sair da minha casa, só se tiver o mesmo conforto que tenho aqui.


Tenho que apenas ter paciência, mais 10 anos...e minha vida vai mudar, e minha independência e liberdade vai voltar, eu digo na independência de ir pra Paris no primeiro convite numa quarta feira (né Plínio?), de participar de um workshop de yoga na Grécia em abril, de esquiar ou tomar chocolate quente em fevereiro na Áustria ou fazer uma visita pra Zanetta na Eslovênia, de ir ao Brasil em março...será uma grande vitória se a saúde estiver ao meu lado. Ainda estou na fase da formiga...trabalhando no verão. Diga-se "cuidando e educando duas crianças de 10 e 12 anos...apesar de que idade, não conta muito no caso da minha filha. E nessa luta diária, praticamente sózinha, sem família, sem marido...minha responsabilidade se duplica. E assim sou feliz.


Conversando com uma senhora, intitulada tia-avó do noivo no casamento semana passada, deparei-me com possível futuro, ou um futuro semelhante pra mim, na dita terceira idade.

Estávamos nós amigos e familiares comportados no City Hall de Amsterdã, em nossas cadeiras, numa sala...sem janelas, que de uma certa maneira nos fez mais centrados na cerimônia oficial, e nas belas palavras da representante legal da cerimônia.

A sacerdotisa exclamou num determinado momento:


- Vocês estão tão quietos.


E sim, estávamos, todos arrumadinhos, bonitinhos...esperando a próxima palavra proferida por aquela mulher loira lá na frente, como se fosse um padre.


Sendo o primeiro casamento gay de minha vida e parece que por sê-lo assim, senti a maior necessidade de seriedade, e talvez as pessoas estivessem pensando a mesma coisa. Nada de brincadeirinhas esdrúxulas sobre o mundo gay, piadinhas clichés inadequadas risadinhas no momento errado, eram apenas dois homens dizendo sim, não personagens que fazem trejeitos com as mãos, e tem voz de Pee Wee Hermann, não, não foi um casamento camp. Foi um ritual belo, raro.


Como ia dizendo no city hall, no exato momento onde muitos estavam fazendo fotos do sim, foto das testemunhas, fotos da troca de alianças, eis que lá veio a "velhinha" bem baixinha, com seus 75 anos já passados, toda bonitinha de vestido azul marinho de poás brancas, pegando sua câmera digital saindo do lugar que estava acomodada, e começou a fazer fotos junto com outras pessoas "jovens" digamos assim. Eu, no local de testemunha, não podia sair do lugar, e infelizmente minha câmera estava junto com o meu namorado, e tive que fazer sinais pra ver, se ele tomava uma atitude e fizesse fotos.

Senti que aquela mulher tinha uma coisa de especial, toda saidinha, fazendo foto, "na idade dela"...e me perguntei, seria a avó de A. Vinda especialmente do Brasil, em Amsterdã, naquela prefeitura. Quem seria essa vovozinha, toda prosa. Vou saber mais tarde.


E algo me dizia, essa senhora tem a cara de São Paulo, a cara cosmopolita, de quem sabe curtir a vida, e fazer o que quer e se diverte, mesmo dentro das limitações de idade, e sorte dela, a saúde parecia estar bem assim como a aparência e o astral. Sinto que pessoas verdadeiras, quanto mais velhas, mais interessantes, e elas mesmas o são. E como aprecio isso.


Mais tarde no barco, fui conversar com a vovozinha...no que ela me disse. Eu sou a tia avó, a tia mãe do Cacá (apelido de A), aguentei-o vários anos na minha casa em São Paulo, adoro o Cacá, e adoro viajar. Tenho netos, mas viajar é uma paixão, estava também em maio aqui na Europa minha filha, fui a tal e tal lugares.

Ficar em casa, cuidando de netos, oops....bisnetos, nao é o meu negócio.

Quero aproveitar a vida, fazendo o que gosto.

Sim, minha filha...sou de Belém e moro em São Paulo.


Sim, fui casada, com um gaúcho...durou 15 anos, e depois o mandei pastar, mandão, machão, já foi tarde.

Que maravilha, me diverti muito batendo aquele papinho íntimo, trocamos figurinhas, até o momento dos discursos, ela me disse: quero FALAR também, eu falo um pouco inglês e a encaminhei pro discurso.


Foi incrível, eu poder anunciar o discurso da granny, e que discurso bonitinho que ela deu.

Era a pessoa de idade mais avançada no barco (festa) e nem porisso a menos festiva.

Pensei, quando eu "crescer" também quero isso, estar nos lugares, assim bonitinha, fazer fotos, dançar, não chamar nem muita, nem pouca atenção, ter esse tipo de atitude.


Gostei imensamente de saber que ela morava em São Paulo, pois já sabia anteriormente...ela é a cara de São Paulo, a independência e liberdade que São Paulo dá pra pessoas que vêm de outros lugares do Brasil, se expressarem e de se descobrirem donas do mundo.


Agora a formiga está aqui, tecendo pensamentos nesse verão de 2010 na Holanda, quem sabe em 2030, lá nos meus 80 anos, estarei (num barco) em Amsterdã, Veneza, Nova Deli, ou em outra parte do mundo qualquer dando um discurso sobre o AMOR...e suas diversas formas.








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