Sou feminista desde que me conheço por gente, antes de ouvir falar de Betty_Friedan, "bra-burning" mito (queima de sutiã) na segunda onda do feminismo que começou nos anos 60 na EUA.
Sou feminista, sempre fui...e moderna, me identifiquei desde os primórdios tempos (de minha longa vida), sobre o conceito de independência, papéis de homens e mulheres (já que vim de uma família de moldes tradicionais, mesmo pai, mesma mãe, 8 filhos, 6 homens e 2 mulheres). E que as más línguas falem algo contra o feminismo, clichês e piadinhas masculinas, qualquer mulher emancipada e com idéias próprias sabe da importância desse movimento através da história, da nossa tragetória.
Lá pelos meus doze anos de idade, meu pai precisava trocar toda nossa calçada que era irregular, a casa era enorme, e fachada mais ainda, e embora tendo seis irmãos homens, não vi nenhum que se prontificasse a ajudá-lo, apenas eu. Claro ainda queria me provar, sempre achei muito chato, lidas domésticas, e sempre fugi da cozinha e de grupos de mulheres da família.
Confesso que ele aceitou prontamente, e lá começamos pelo cimento, eu colocando água, e ele aquele pó cinza no carrinho de zinco, carregando as lajes imensas e pesadas de um lado pra outro. É claro que o serviço pesado ficou com ele, mas me senti vitoriosa por ajudá-lo, me senti útil, porque não entendi também como aquele homem mais velho, tinha que fazer sozinho aquele trabalho todo nos seus dias de folga. A calçada ficou um primor, e valeu o esforço, e eu claro, devo ter ganho alguns pontos com o papai.
Anos depois, num almoço em família (e que família gigantesca era a nossa), ouvi no ar que as crianças e mulheres comeriam primeiro, e depois viria a mesa dos homens - todos em separado. Gaúcho tem fama de ser macho, muito macho e mandão...e não se fala(va) mais no assunto.
Ai, aquilo me doeu, apesar de pensar nas vantagens individuais como no filme Titanic, mulheres e crianças primeiro..., senti imediatamente um ar de que as mulheres e crianças tinham que ficar juntos, só para mudar um pouco, senti que não havia troca, mulher e criança senta primeiro, e homem depois.
Onde estaria a troca? o diálogo? Sempre fui diferente (por não tolerar o imposto)...e bati o pé, afinal não era só por ter cabeça dura, queria questionar o estabelicido, juntar, mulheres, crianças, adultos, jovens, deixar fluir. Talvez até fosse interessante dividir em dois blocos (facilidade física), afinal a mesa não era grande o suficiente, mas a estrutura separatista me chamou atenção, e resolvi questionar a coisa toda.
Tentei argumentar que não comeria à mesa com mulheres e crianças e sim sentaria à mesa com os homens, porque era igual a eles (na minha juventude a igualdade significa "ter os mesmos direitos") . Senti umas risadas no ar, mas ao mesmo tempo interesse pela minha atitude não apropriada. Homens gostam de desafios, brigas, lutas, guerras, jogos, competição e obviamente se sentirem vencedores.
Resultado, meu irmão Paulo (um dos mais velhos, o segundo homem dentre os 6), falou que tudo bem, se eu comesse uma PIMENTA malagueta crua, da horta de minha mãe, tirada diretamente do pé...(que ele pegou sem pestanejar) eu poderia sim sentar à mesa com os homens.
E o fiz, comi a pimenta inteira (quase morri), mas comi e sentei belamente à mesa masculina, e nem lembro o que aconteceu, mas lembro bem que todos homens e mulheres me olharam com outros olhos, a partir daquele evento.
Sempre procurei defender e entender os direitos das mulheres (aliás essa é a minha causa maior nessa vida), minha irmã quando se separou nos anos 70 (desquite, nem divórcio existia, não tinha autorização pra namorar), eu a defendia; tia Aida (minha tia favorita que nunca mais pode se casar novamente após um casamento fracassado, manipulada e sustentada pelos irmãos) eu tinha dó dessa pseudo-prisão, tecendo elogios que ela era uma mulher cheia de talentos e bonita, devia sim ter outra chance (de encontrar outra pessoa) que nunca teve; de minha mãe dona de casa que mesmo assim tentava fazer salgados pra fora, docinhos, forrar botão, ajudar na Igreja, dar comida aos mendigos (e que antes dos oito filhos era exatamente como eu), independente, dona do próprio nariz,com 22 anos migrou de Pelotas pra Porto Alegre a procura de melhores oportunidades (afinal Porto Alegre era a capital, com mais empregos, mais moderna do que a cafona Pelotas), e os meus próprios como eterna estudante ou adolescente (não podia sair a noite com a mesma frequência que os guris), ou se saísse, tinha que ser monitorada por um irmão mais velhos (que fazia chantagens comigo) quando encontrava chauvinistas ao meu redor, eram conflitos dos mais variados, como quando trabalhava em escritório, sempre fui a diferente, quase não tinha aquela de usar roupas pra agradar homens, e mesmo na insegurança eu sempre fui de domar os leões, já como (mulher) empresária (nesse sentido fui reconhecida e respeitada, e diversas vezes homenageada na mídia de São Paulo como uma das poucas mulheres no comando da noite), e agora no dito "primeiro mundo", como estrangeira e mãe, bom, aqui sou mãe, divorciada, tudo mudou, meus papéis são outros, minha vida mudou ...sempre quis saber porque uns sim, e outros não, e o que podemos (nós mulheres) fazer para reverter o quadro da inferioridade imposta por "eles" a opressão, a submissão.
Na Holanda, as mulheres ganham salários mais baixos que os dos homens, e trabalham o tanto quanto, ou nos mesmos cargos, aqui não existe EMPREGADA,. Aqui o homem vai pra cozinha sim, cozinhar e lavar louça, e a mulher lixa, pinta paredes, pilota a furadeira, dividem a carga horária na maioria dos casos (vide intensa manifestação feminista nos anos 60), a mentalidade machista está diminuíndo muito, mas ainda existem determinadas piadinhas, sexismos, etc, mas muito menos do que no meu querido país. Enquanto que os imigrantes e refugiados políticos e principalmente as mulheres de famílias islâmicas vivem no gueto, e não possuem direitos iguais, é um mundo paralelo, de uma mulher holandesa emancipada (e mesmo assim longe da igualdade total de direitos), e uma estrangeira de países de conflitos ou problemas econômicos e políticos. Claro nem todos, mas em muitos países a mulher não tem VOZ ATIVA, como deveria ter, e países desenvolvidos ainda tem muito chão para galgar a igualdade total.
Conheço uma mãe marroquina, mais nova que eu, que veio dos Berbers - região montanhosa do Marrocos, que é analfabeta...na língua mãe, árabe. Nunca teve oportunidade de ir à escola (longe de casa), os homens tinham prioridade.
Seu sonho é(ra) aprender a ler e escrever na língua materna, me confidenciou, mas ela tem cinco filhos (teve que criar os 5 na Holanda), o que eu admiro nessa mulher, que ela aprendeu holandês, e até tirou a carta de motorista, e trabalha parttime, fazendo faxina para ajudar o orçamento familiar, uma pessoa que aproveitou as oportunidades que a Holanda oferece (quando oferece), mas já a única filha, tirou diploma, e não terá com certeza 5 filhos, e não fará faxinas (não desmerecendo a profissão).
Aqui você vê a mulher holandesa prestes a fazer aborto sem anestesia, lendo uma revista, e uma muçulmana ao lado - que esconde do marido, porque já tem um bebê...mas
não quer ter outro filho, esconde porque é proibido abortar pela religião dela, esconde porque o marido não aprova o aborto, esconde porque é uma mulher bonita e jovem, e que quanto mais filho tiver, mais estará sacrificando a sua identidade pessoal, a sua liberdade. Diferentes realidades num mesmo espaço físico, direitos calados, segredos.
O mundo ainda é desigual, vide os países onde o islamismo impera, sem direito a voto, casamentos escolhidos - alguns dentro da família, governos tiranos (Taliban), cultura desigual, a voz que não ouvimos e nem estamos interessados em ouvir, afinal mulher faz parte da minoria.
E também países na África, onde os pais estupram os próprios bebês (filhas), para não serem contaminados pelo vírus HIV. Camisinha...tabu, não. E joga a pedra na Geni,
Maria Madalena, sexualidade...tabu, aborto tabu, as religiões que mandam nas cabeças dos governantes (culpa) fazendo lavagem cerebral no povo ignorante, e sempre a minoria que se ferra. Desde 1974 leio a Cosmopolitan brasileira (Nova), e sei e sabia o que era orgasmos, ponto's G, que virgindade não deve ter a importância que é dada por homens, da luta da mulher. (nos anos 70 essa revista era diferente)...pelo menos na teoria eu sabia muita coisa, de lá pra cá, a coisa mudou mas o mundo, nem tanto, é mais a aparência de que a mulher se emancipou, de que a mulher já tem direitos iguais.
Sou uma feminista, feminina (preciso me explicar? não), digo apenas, cuido da minha aparência, meu sorriso é meu cartão de visita,, e no meu corpo mando eu. Invisto em mim mesma, me sinto bem, vaidade faz parte e não vejo nada demais nisso e minhas idéias e valores pra mim são preciosos, numa conversa digamos mais apimentada, penso que o pacote e conteúdo são importantes, humor é primordial, diálogo franco, às vezes no meio das mulheres, tenho que me calar, mas não faz mal, entendo que muitas mulheres ainda não são livres, e nem podem expressar sua opinião, sempre seremos dependentes de alguma maneira, mulheres de homens, homens de mulheres, e a grande aldeia global, um depende do outro, e temos que aceitar.
É uma grande lástima, que muitas mulheres no mundo, ainda vivam em prisões, sem liberdade, sem o poder da escolha, aprisionadas, apedrejadas, maltratadas, mutiladas, torturadas, aniquiladas por uma sociedade machista, masculina, de exploração, sem voz ativa e não falo da boca pra fora não, eu sofro, mas não me calo porisso que tenho esse blog, meu cantinho.
Me orgulho de minha vitória pessoal, não somos como os homens, não podemos e nem devemos ser. Tudo que me resta é a consciência de que somos iguais, porém desiguais, e que a guerra não é dos sexos, mas sim da liberdade de expressão, do voto, da luta, da conscientização da própria mulher pra conscientizar seu semelhante abrir o diálogo (franco) na sociedade, da solidariedade entre mulheres e da reflexão como hoje: 8 de março, porque afinal, todo dia é nosso dia, e precisamos viver num mundo de paz.
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